Francisco na beatificação de João Paulo I: transmitiu a bondade do Senhor

Na manhã deste domingo, 4 de setembro, foi realizada a Santa Missa com o Rito de Beatificação do Papa João Paulo I na Praça São Pedro no Vaticano. Na sua homilia, o Papa Francisco comentou o Evangelho do dia recordando das exigências de Jesus para segui-l’O perguntando-se o significado das suas advertências.

Seguir Jesus

Refletindo as palavras de Jesus o Papa disse: “Em primeiro lugar, vemos muitas pessoas, uma multidão numerosa que segue Jesus”. “Nos momentos de crise pessoal e social em que estamos mais expostos a sentimentos de ira ou temos medo de qualquer coisa que ameaça o nosso futuro, ficamos mais vulneráveis e assim, na onda da emoção, confiamo-nos a quem com sagácia e astúcia sabe cavalgar esta situação, aproveitando-se dos temores da sociedade e prometendo ser o ‘salvador’ que resolverá os problemas, quando, na realidade, o que deseja é aumentar a sua popularidade e o próprio poder”. Porém Francisco adverte: “O Evangelho diz-nos que Jesus não procede assim. O estilo de Deus é diferente, porque não instrumentaliza as nossas necessidades, nunca Se aproveita das nossas fraquezas para se engrandecer a Si mesmo. A Ele, que não nos quer seduzir com o engano nem quer distribuir alegrias fáceis, não interessam as multidões oceânicas”, frisa ainda.

O discernimento

“Assim, em vez de Se deixar atrair pelo fascínio da popularidade, pede a cada um para discernir cuidadosamente os motivos por que O segue e as consequências que isso acarreta”

“Com efeito – continua Francisco – pode-se seguir o Senhor por várias razões, e algumas destas –admitamo-lo – são mundanas: por trás duma fachada religiosa perfeita pode-se esconder a mera satisfação das próprias necessidades, a busca do prestígio pessoal, o desejo de aceder a um cargo, de ter as coisas sob controle, o desejo de ocupar espaço e obter privilégios, a aspiração de receber reconhecimentos, e muito mais. Isso acontece hoje entre os cristãos. Mas não é o estilo de Jesus; nem pode ser o estilo do discípulo e da Igreja”. Segui-Lo, continua, “significa ‘tomar a própria cruz’ (Lc 14, 27): como Ele, carregar os pesos próprios e os alheios, fazer da vida um dom, não uma posse, gastá-la imitando o amor magnânimo e misericordioso que Ele tem por nós”.

Ponderando em seguida: “Para o conseguir, porém, é preciso olhar mais para Ele do que para nós próprios, aprender o amor que brota do Crucificado”. Citando João Paulo I disse, nós mesmos “somos objeto, da parte de Deus, dum amor que não se apaga”. “Não se apaga: nunca se eclipsa da nossa vida, resplandece sobre nós e ilumina até as noites mais escuras”. “Amar, ainda que custe a cruz do sacrifício, do silêncio, da incompreensão, da solidão, da contrariedade e da perseguição”.

Citando ainda o novo Beato esclareceu:

“Se queres beijar Jesus crucificado, não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor. O amor até ao extremo, com todos os seus espinhos: e não as coisas a meio, as acomodações ou a vida tranquila.”

Ainda falando do amor ou do medo de nos perdermos, renunciarmos a dar-nos, ou deixar inacabadas as coisas, Francisco recorda que se fizermos assim: “Acabamos por viver a meias: sem nunca dar o passo decisivo, sem levantar voo, sem arriscar pelo bem, sem nos empenharmos verdadeiramente pelos outros.

Viver plenamente o Evangelho

“Jesus pede-nos isto: vive o Evangelho e viverás a vida, não a meias, mas até ao fundo. Sem cedências”

“Irmãos, irmãs, o novo Beato viveu assim: na alegria do Evangelho, sem cedências, amando até ao extremo. Encarnou a pobreza do discípulo, que não é apenas desapegar-se dos bens materiais, mas sobretudo vencer a tentação de me colocar a mi mesmo no centro e procurar a glória própria. Ao contrário, seguindo o exemplo de Jesus, foi pastor manso e humilde. Considerava-se a si mesmo como o pó sobre o qual Deus Se dignara escrever. Nesta linha, exclamava: ‘O Senhor tanto recomendou: sede humildes! Mesmo que tenhais feito grandes coisas, dizei: ‘somos servos inúteis’”.

Por fim Francisco concluiu a homilia recordando:

“Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com um rosto alegre, sereno e sorridente, que nunca fecha as portas, que não exacerba os corações, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, que não é bravia nem impaciente, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado, caindo no ‘retrocedismo’. Rezemos a este nosso pai e irmão e peçamos-lhe que nos obtenha ‘o sorriso da alma’; aquele transparente, aquele que não engana: o sorriso da alma, servindo-nos das suas palavras, peçamos o que ele próprio costumava pedir: ‘Senhor, aceitai-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas fazei que me torne como Vós desejais’”.

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Por

Jane Nogara – Vatican News