A pergunta “quando poderão voltar os corais em nossa Igreja” aflige cantores e cantoras de diversas paróquias. Confira a seguir uma reflexão sobre esse tema, no artigo de autoria de José Luis Manrique, Regente do Coro Arquidiocesano Luz dos Pinhais e Membro da Rede de Músicos Católicos do Conselho de Leigos de Curitiba:
Que saudades dos corais! Quando poderão voltar? *
Esta pergunta aflige cantores e cantoras de diversas paróquias da Arquidiocese de Curitiba. A prática coral presencial foi suspensa desde março deste ano por causa do cenário pandêmico imposto pela SARS-COV-2 e até agora não temos informações concretas de quando poderemos ter a volta desta atividade que faz tanto bem para a Igreja e para a sociedade.
Um dos artigos mais recentes1 e amplos sobre este assunto foi publicado no dia 3 de junho pela Association of British Choral Directors, sob o título: “Aonde foram todos os cantores, e quando eles voltarão?”2. Este artigo recolhe a informação de vários outros estudos e publicações conhecidos até essa data. O que a maioria destes estudos aponta é que o canto possui uma possibilidade de transmissão da COVID-19 que vai além das gotículas visíveis geradas por exemplo ao tossir ou espirrar. Trata-se da transmissão por aerossol: “Uma partícula de aerossol é definida como aquela que é invisível aos olhos, tipicamente do tamanho de 1 µm de diâmetro”. O problema principal com esta modalidade de transmissão é que a partícula tende a ficar suspensa no ar por algum tempo, sem se precipitar diretamente ao chão. Dessa forma, a trajetória da partícula é incerta e o distanciamento previsto pela OMS de 1 metro entre as pessoas acaba sendo ineficaz para a ação de cantar. O pesquisador Van Doremalen demonstrou que o coronavirus aerossolizado mantinha-se ativo no ar em média por uma hora. Estas partículas invisíveis poderiam estar sendo geradas nas camada mucosa do trato respiratório pela ação das pregas vocais. Por causa das dificuldades que a situação pandêmica coloca nas atividades humanas e o risco das provas em campo, não contamos ainda com resultados conclusivos e os estudos continuam sendo desenvolvidos na medida do possível. O que se pode dizer é que cantar em grupo não é seguro no momento e que a prática coral está sendo classificada como uma atividade de alto risco de transmissão.
No ambiente ecumênico do qual a Arquidiocese faz parte, os nossos irmãos luteranos emitiram um comunicado no dia 12 de junho com orientações específicas sobre a prática musical e o canto nos cultos3. O documento abre com a frase “A música não pode parar, só precisamos encontrar novos jeitos”. Estas orientações, alinhadas com as pesquisas citadas anteriormente, também apontam o canto como atividade de alto índice de contágio. Em relação aos cultos transmitidos ao vivo, a opção mais recomendada para o serviço musical ministerial é que somente uma pessoa toque e cante.
No dia 4 de julho, foi publicado um estudo preliminar da LMU University Hospital Munich4 em que se investiga a dispersão de aerossol no canto e na fala. Uma atualização deste mesmo estudo, publicada no dia 24 de julho5, aponta que o distanciamento para o cantor precisaria ser pelo menos de 2 a 2,5 metros na direção frontal, mas que a segurança depende também da acumulação do aerossol durante a fonação e do fluxo de ar no ambiente. Sobre a utilização de máscaras, este estudo aponta que cantar com máscara cirúrgica consegue conter completamente a liberação de gotículas grandes e parcialmente as partículas em aerossol. Mesmo sem eliminar completamente o risco, cantar com máscara é uma opção que precisaria ser acolhida como medida preventiva em todas as atividades litúrgicas e pastorais.
Por parte do Coro Arquidiocesano Luz dos Pinhais (CALP), da nossa cidade, as atividades presenciais foram suspensas inicialmente para o primeiro semestre. Em vista dos últimos dados científicos, tal suspensão foi prolongada até o final do ano. Dentro da coordenação do CALP, as atividades presenciais estão sendo programadas para um eventual retorno a partir do ano que vem, desde que haja anuência das autoridades sanitárias. Assim, em sintonia ecumênica, o Coro Arquidiocesano também está à procura de novas formas de ser “coral” na modalidade de coro virtual, prática que tem ganhado popularidade neste ano. A ideia consiste em preparar material de estudo e gravação para que cada cantor possa registrar seu canto desde casa por meio de celulares e/ou computadores e depois enviá-lo para a respectiva mixagem de áudio e edição de vídeo. Além disso, o CALP, com o apoio da Rede de Músicos Católicos do Conselho de Leigos de Curitiba, está organizando a transmissão de eventos ao vivo com assuntos de formação e interesse próprios do músico e da musicista católica, dentro e fora da Igreja.
É uma pena que não conseguimos ter ainda uma resposta concreta para a pergunta do título deste texto. Por outro lado, estas informações nos permitem tomar decisões cada vez mais adequadas para o enfrentamento da emergência de saúde pública declarada no começo do ano. Que o sopro do Espírito continue a inspirar as atividades próprias da religiosidade do Povo de Deus e afaste de nós os tempos pandêmicos.
* por José Luis Manrique
Regente do Coro Arquidiocesano Luz dos Pinhais
Membro da Rede de Músicos Católicos do Conselho de Leigos de Curitiba
2 https://www.abcd.org.uk/storage/Choral_Directions_Research/Where_have_all_the_singers_gone_publication_version.pdf