Em sintonia com a Campanha da Fraternidade, programas da arquidiocese de Curitiba trabalham a sensibilização para o cuidado com a vida de irmãos com sofrimento emocional
Neste tempo, somos ainda motivados a nos empenharmos com novos propósitos, que nos ajudam a crescer na fé. Todo este empenho que nos é proposto tem um sentido. Ele nos faz sair de nossa zona de conforto e mergulhar em águas mais profundas. Assim aprenderemos a lidar com todas as circunstâncias que a vida nos apresenta e a trilhar um caminho de aperfeiçoamento na forma como nos relacionamos com Deus e com os irmãos.
A Campanha da Fraternidade deste ano nos incentiva a viver de forma concreta o amor, no servir e no cuidar daqueles que se encontram em situação de fragilidade em todas as etapas da vida. Como Pastoral familiar estamos comprometidos com este programa e temos consciência que todo tipo de sofrimento humano é de responsabilidade de toda a comunidade social e eclesial.
No dia a dia, nos deparamos com inúmeras situações de sofrimento e a nossa ação pastoral passa por uma conversão na forma de acolhermos o irmão que sofre. Jesus não avaliava as causas do sofrimento, mas com generosidade socorria o necessitado.
O grande desafio dos cristãos diante de uma sociedade inquieta, individualista e insegura é ter a sensibilidade de perceber o outro. Não podemos nos acostumar a olhar para o irmão em situação de sofrimento extremo e naturalizar esta condição de vida, passando por ele de forma indiferente.
A sensibilidade é a base da misericórdia, ela é a força do Espírito Santo, que age em nós e nos move para a ação. Sem ela vamos nos distanciando dos verdadeiros sentimentos que nos torna uma só família em Cristo. Jesus nos convida a não endurecermos os nossos corações.
Indo de encontro a este chamado, na intenção de atender uma demanda urgente em nossa sociedade, o Projeto SobreViver, iniciado no ano passado em nossa arquidiocese, que visa a prevenção ao suicídio, já colhe seus primeiros frutos graças ao compromisso dos irmãos em não ignorar o sofrimento e doar tempo àquele que sofre.
Uma das propostas da Campanha da Fraternidade em defesa da vida é justamente a de nos ajudar, guiados pelo Espírito Santo, a desenvolver a sensibilidade do amor. Deste modo estaremos atentos àqueles que, de alguma forma, indicam estar vivendo situações de limite emocional e que não encontram mais sentido na vida.
Precisamos compreender que existem muitos mitos em relação a este estado emocional. E por que é tão difícil encontrar respostas para este alarmante problema? Principalmente porque as causas que levam uma pessoa a este estado de tensão extrema e desespero, são inúmeras, de forma que a ideação suicida (pensamentos que levam ao suicídio) acaba se tornando um alívio.
O problema está nas diferenças de impacto das mesmas situações no emocional de cada um. Na forma como cada pessoa vive e avalia uma situação. Precisamos pensar que existe um movimento fisiológico hormonal de regulação das nossas emoções e por muitos motivos até mesmo genéticos esta desregulação pode ocorrer, gerando sintomas e reações físicas, onde a pessoa em estado de desespero perde a noção da realidade.
O sofrimento emocional pode ser intenso, mas quando a pessoa que sofre não encontra uma explicação, o vazio se intensifica e a sensação de desespero aumenta. Existem muitas pessoas que escondem este estado interno de sofrimento, ou por vergonha ou por medo. Há muitos casos de pessoas que se encontram neste estado, mas não buscam um tratamento por medo de um estigma.
Muitas vezes, estamos próximos de pessoas que não aparentam nenhum problema, apenas se dizem pessoas quietas ou introvertidas. O fato é que precisamos ter um olhar sensível e delicado diante do irmão, pois existem muitas pessoas que estão emocionalmente vulneráveis, onde o corpo não suporta mais nenhuma sobrecarga emocional. Por isso, o Estresse é um grande risco para estes casos.
Um outro fator importante é que, muitas vezes, não existe a compreensão destes componentes e muitos familiares julgam este estado de depressão principalmente nos jovens como preguiça, irresponsabilidade. Mas, este estado depressivo podemos encontrar também nas crianças.
Para muitos ainda depressão é falta de fé, “quem tem Deus não se deixa levar pela depressão”. Realmente não é muito fácil entender o que é um desânimo e o que é uma depressão. Precisamos nos aprofundar neste assunto para podermos entender o que está por trás de uma depressão ou de uma ideação suicida.
O programa SOS família, “cuidando dos cuidadores”, neste ano tem como objetivo preparar os agentes pastorais para esta realidade. É um espaço onde podemos nos instruir a fim de detectarmos os casos de risco ao suicídio e chegarmos antes.
A vida é um dom de Deus e deve ser cuidada.
Mara Avelino- Psicóloga
Coordenadora do SOS Família
Texto publicado na Revista Voz de Abril – Março/2020