Como se comportar diante da rápida evolução das tecnologias e ferramentas de comunicação, principalmente em relação às redes sociais? Foi em torno dessa pergunta que se concentrou o 2º painel do Átrio do Gentios, que acontece no TUCA, da PUC PR, em Curitiba.
Com o tema “Transcendência, tecnologia e novas fronteiras do conhecimento”, o 2º painel reuniu, na noite desta terça-feira (12), os palestrantes Luli Radfaher, doutor em comunicação pela Universidade de São Paulo e colunista da Folha de São Paulo; A escritora e jornalista Isabela Noronha; O padre, jornalista e diretor do Colégio Medianeira, Carlos Jahn, que foi o intermediador do encontro; e o Diretor de Marketing e comunicação do Grupo Marista, Fábio Correa.
Abertura
Quem fez a abertura do painel foi o Cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura do Vaticano. Para o Cardeal, a comunicação remete à própria Sagrada Escritura quando Deus se manifesta através da Palavra. “A palavra é o resumo de Deus”, disse o cardeal, explicando como através da palavra surge a imagem da história da salvação. “A bíblia é fundada na palavra que se torna imagem. O que são as parábolas de Cristo senão palavras que se tornam imagens para transmitir o amor de Deus”.
Discorrendo sobre um diálogo que teve com o filho do grande teórico da comunicação, Marshall Mcluhan, que disse que as novas tecnologias se transformaram numa extensão do corpo humano aumentando as potencialidades da comunicação, o cardeal Ravassi mostrou como as novas tecnologias tem mudado o mundo. “Estamos vivendo uma nova era global. É preciso que a Igreja se dê conta dessa mudança, principalmente em sua comunicação, levando em conta as novas gerações”, disse o cardeal.
Desafios da comunicação diante das novas tecnologias
Abrindo o debate, Luli Radfaher, discorreu que apesar dos benefícios que a tecnologia da comunicação traz para os dias de hoje, também é preciso que os indivíduos tenham uma postura crítica em relação a essa mesma tecnologia. “Hoje tudo é resultado de códigos. O uso da tecnologia é boa, mas também provoca mudanças nos indivíduos para que se comportem de acordo com a estrutura vigente. O indivíduo passa a ser uma peça”, disse, alertando que o ambiente em que se constrói e estipulam as novas tecnologias estão carregadas de desafios que podem não ser levados em conta pelas maioria das pessoas devido a velocidade com que ocorrem.
“Hoje, as novas tecnologias ocorrem numa velocidade muito rápida e grande, desmontando o mundo que a gente conhece. Pela primeira vez na história, as tecnologias correm mais rápido que as ideais”, disse Luli, dando o exemplo dos aplicativos de transporte de passageiros de táxi. “É prático para quem é usuário, mas e que beneficio traz para o motorista de táxi?. O cara tem que trabalhar sete dias por semana e fica responsável por tudo o que acontece com o carro. Já a empresa que gerencia o aplicativo, fica exime de tudo, inclusive dos direitos trabalhistas. E aí como fica o motorista?”, questionou.
Para Luli, uma das soluções para enfrentar estes desafios seria uma atitude mais crítica fez uma analogia de como pode ser isso. “Hoje, a tônica é sempre dar um passo para a frente. Já eu recomendo, que devemos ter o cuidado de dar um passo para trás diante de uma novidade. Quanto mais você se afasta, maior fica o seu campo de visão para enxergar tanto os efeitos positivos, como o negativos”, concluiu.
Atenção em relação ao uso da tecnologia
Já para a escritora Isabela Noronha, o poder das redes sociais de estabelecer conexões entre as pessoas é muito positivo. “Esse aspecto de conexão da internet, de poder ter acesso e conversar com pessoas que estão longe é maravilhoso”, disse. Ela também discorreu sobre o cuidado de não se expor tanto nas redes sociais. “Costumo usar mais como uma ferramenta de trabalho, é preciso sempre questionar esse uso e seus aspectos na vida da gente, já que a internet tem uma certa tendência de nos empurrar para o isolamento”, disse.
Para aprofundamento do tema, Isabela recomendou o seriado britânico “Black Mirror”, que trata do uso excessivo da tecnologia, como ela afeta nossas vidas e até onde somos dependentes dela. “Esse seriado mostra como devemos ficar atentos em relação ao uso da tecnologia”, conclui.
Resistência contra o excesso de tecnologia
Para Fabio Correa, as pessoas já começam questionar esse universo dos excessos da tecnologia através de uma “busca pelo escasso”, conforme definiu. “Percebo que há um movimento pela busca de uma coisa mais profunda, de pessoas querendo sair um pouco desse excesso, querendo ser um contraponto. O exemplo disso são um movimento de um êxodo urbano, uma conscientização em torno da redução do consumo e a tentativa das pessoas em buscarem um modo de vida mais simples, mais reflexivo”, resumiu.
Conclusão do painel
Ao final das explanações, aconteceu um debate entre os palestrantes e o público presente em relação aos desafios do tema. A conclusão foi de que é preciso aproveitar os benefícios da tecnologia sempre procurando aplicar o raciocínio de como podemos utilizar a tecnologia para melhorar o mundo em que vivemos.
Texto: Nilton de Oliveira Pinto – Pascom
Fotos: PASCOM