Em 2018, a Igreja no Brasil celebra o Ano do Laicato, tempo de valorizar e refletir sobre o papel do leigo na vida eclesial. Para isso, a Arquidiocese de Curitiba traz o relato de Gisséli Selusniacki, que compreendeu o valor do dízimo a partir do testemunho do seu pai.
“Meu pai, João Selusniacki, e minha mãe, Clara Florindo Selusniacki, formaram uma família com sete filhos – seis mulheres e um homem. Nós fomos criados por meio de rígida educação e sempre dentro da Igreja, participando das missas todos os domingos e rezando o terço de segunda a segunda em casa, todos ajoelhados e reunidos em volta da cama.
Sempre achei lindo tudo que meus pais faziam pela fé. Porém, na minha adolescência, não gostei de saber que 10% do salário do meu pai iam para o dízimo, pois nunca tivemos dinheiro para esbanjar. Então, comecei a questionar meu pai. Ele respondia apenas que era obrigação de todo cristão e que ele nunca deixaria de cumprir com sua obrigação.
O tempo passou e eu procurei entender melhor a Igreja e a forma com que meu pai se portava perante o dízimo. Um dia, o questionei de novo e ele me respondeu: “Filha, está na Bíblia. Dai a Cesár o que é de César e dai a Deus o que é de Deus. O dinheiro do dízimo não me pertence”.
Lembro de um outro episódio que acredito ter sido o principal para me fazer enxergar de vez a importância do dízimo. Estávamos numa situação complicada em casa, eu e minha irmã desempregadas e meu pai com seu salário de aposentado para sustentar sozinho uma casa com seis pessoas. O dinheiro estava curto e havia remédios que meu pai precisava comprar.
Eu falei para ele: “Por que o senhor não deixa de pagar o dízimo pelo menos esse mês?”, e ele respondeu: “Filha, nunca me faltou nada, sempre tivemos tudo de que precisávamos. Agora não será diferente. Deus nunca nos faltou”. Ouvi aquelas palavras e fiquei pensando. Realmente nunca nos faltara o essencial. Desse momento em diante, comecei a entender o significado da palavra DÍZIMO!
Houve alguns momentos em que meu pai, devido à situação financeira, precisou dar metade do dízimo num determinado mês. Mas quando chegava o outro mês, ele pagava o dízimo devido e mais a metade que havia faltado do mês anterior. Ele também tomava essa atitude com o 13º salário: todo ano, no mês de dezembro, ele dava para a Igreja o dízimo dobrado e falava orgulhoso: “Se eu recebi o 13º foi por que Deus me deu condições e, como retribuição, também dou a parte da Igreja”.
Meu pai passou a vida levando o nome de Deus para todos que tinham a oportunidade de cruzar seu caminho. O dízimo era apenas uma forma que ele tinha de viver o cristianismo intensamente. Hoje, vejo que o meu pai, na sua simplicidade e com poucas palavras, nos ensinava dia após dia como viver verdadeiramente como cristãos. Ele nos ensinou, com muito custo, que o dízimo é apenas uma pequena retribição do amor que Deus tem por nós.
Uma semana antes do meu pai facelecer, um dos seus netos – meu sobrinho – estava no hospital fazendo companhia para ele. Como não poderia ser diferente, meu pai usou aquelas horas de conversa para ensiná-lo sobre a importância do dízimo. Meu sobrinho relembrou cada palavra durante o velório do meu pai. Nós pudemos sentir em suas palavras que ele aprendera, em poucas horas de conversa, o que eu e minhas irmãs levamos anos.
Aprendemos que o dízimo é ser cristão, é ser crente, é agradecimento, é ajuda, é caridade, é sentimento. O dízimo é e significa tantas coisas que só quem vive essa verdade é capaz de compreender”.
Gisséli Selusniacki