Fé-Política, a Fé que move Montanhas: a Igreja e a Reforma Política

Neste texto vamos continuar o tema do artigo anterior, mas daremos um passo adiante, com um assunto tão caro à Igreja pós-conciliar, tão necessário neste momento e que ainda assusta muita gente, que é a relação Fé-Política. São Tiago nos diz que “a fé sem as obras é morta”[1]. Ora, a política é a obra da fé. Poderíamos até parafrasear o texto bíblico dizendo que a fé, sem uma ação política que lhe dê concretude e corporeidade, é morta. A Reforma Política é objeto de grande preocupação da Igreja, que diz: “A participação dos discípulos e missionários no bem comum pelo processo político é um direito e um dever, como cidadãos e do exercício da missão[2]”. É por isso que uma das principais ações propostas pela Igreja para este ano é engajar-se na campanha pela Reforma política.

Para aqueles/as que ainda têm medo, que acham difícil, ou mesmo impossível, sentem-se pequenos, tenham coragem! Jesus mesmo é quem nos pede para ter uma fé do tamanho de um grão de mostarda[3]. A política precisa reencontrar seu lugar dentro do nosso sagrado, pois, somente assim, faremos de nossas celebrações, de nossa evangelização e de nossa religião, práticas libertadoras. Somente com uma Fé-Politica, que não divida o ser humano em duas partes – a espiritual, que a Igreja cuida, e o corpo, que é entregue à prefeitura, mas que, “Desenvolva todos os seres humanos e os seres todos[4]” – é que seremos discípulos/as e missionários/as de Jesus. Precisamos, portanto, por meio de nossa evangelização, fazer com que nossas crianças, nossos jovens e adolescentes, mas, sobretudo, nossos padres e nossas lideranças na Igreja aprendam a gostar de ciência, de religião e de política.

Precisamos urgentemente de uma fé-política que, a partir do testemunho e do martírio – por que não – ensine-nos mais a pensar, sentir e a agir, do que a obedecer. Temos todas as razões possíveis para desconfiar de uma Igreja que recebe aplausos e confetes vindos de um sistema opressor. É como mãe e educadora na fé que a Igreja nos batiza, nos consagra, nos confirma e nos envia para servir.  “Da instrução e educação, deve-se passar a ação[5]”. Essa ação, que é um ato político, é o fruto de uma fé-política, pois somos seguidores/as de um prisioneiro político, morto pela arrogância e pelos fundamentalismos dos líderes políticos e religiosos de seu tempo. Mas que Deus o ressuscitou[6]. Quando a Igreja nos desafia a sairmos de nossas zonas de conforto, nos enviando a anunciar, a testemunhar, a dialogar e a servir, ela está também nos provocando, como batizados/as, a ir ao encontro com Jesus Ressuscitado. Ele não está mais no túmulo[7], conforme nos testemunha Maria Madalena. Não é refém e nem propriedade de ninguém, mas está nas “Galileias[8]” do mundo, nos esperando de braços aberto, tal qual se encontra no alto do corcovado.

O encontro pessoal e indispensável com Jesus é o que nos torna discípulos e missionário, pois “há muitos batizados e até agentes de pastoral que não fizeram um encontro pessoal com Jesus Cristo, capaz de mudar para se configurar cada vez mais ao Senhor[9]”. É esse encontro que nos faz militantes do Reino. “Uma opção de vida, que nos defina o sentido da vida daqueles que aderiram a ela”[10]. Concluindo essa reflexão, vale lembrar que buscamos as respostas, às nossas perguntas, com os dois meios que temos, “a fé e a razão”[11]. Não podemos, portanto, separar nem uma da outra, tampouco a fé da política.

[1] Carta de Tiago, 2, 26.
[2] Texto Base da CF-2015, p. 78.
[3] Mateus, 17,20.
[4] Carta Encíclica do Papa Paulo VI. Encíclica Populorum Progressio. (O progresso das nações), nº 42.
[5] Carta Encíclica do Papa João XXIII. Mater et Magistra (Mãe e Mestra). Nº 236.
[6] Atos, 2,24.
[7] João 20, 1-2.
[8] Mateus, 28,16.
[9]CNBB. Documento 100. Comunidade de Comunidades –  Uma nova paróquia –  A conversão pastoral da paróquia, nº 52.
[10] Emir Sader. A Nova Toupeira. São Paulo: Boitempo, 2009, p. 20.
[11] Marcelo Gleiser. Criação Imperfeita – Cosmo, Vida e o Código Oculto da Natureza. São Paulo: Record, 2010, p. 295.

 

João Santiago. Teólogo, Poeta e Militante.
Coordenador da Campanha da
Fraternidade na Arquidiocese de Curitiba