Como é gostoso quando a gente é surpreendido com algum filme. Mesmo sendo pouco conhecido e pouco comentado, por vezes podemos ser surpreendidos uma história maravilhosa. No Oscar de 2020 aconteceu isso. Enquanto todos comentavam de Parasita, Coringa, 1917, estava concorrendo um filme muito pouco falado, uma comédia dramática incrível, que aquece nossos corações e que hoje é minha recomendação de filme: Jojo Rabbit.
Ambientado na Segunda Guerra Mundial, Jojo Rabbit conta a história de um menino alemão de apenas dez anos que sonha em lutar na guerra, para defender sua nação. Solitário, Jojo tem um amigo imaginário que o orienta e anima em sua missão: o próprio Adolf Hitler. Com o sonho de lutar na guerra e exterminar os judeus, Jojo participa de acampamentos militares, se dedica a escola e guarda muito rancor de um povo que ele sequer conhece. Desde muito cedo, todavia, ele aprende na escola que judeus possuem chifres, rabos, aparência próxima a ratos, botam ovos, vivem em tocas escondidas, etc. E é tudo isso que o motiva a querer lutar na guerra.
Enquanto Jojo Rabbit alimenta seu desejo pela guerra, por outro lado, vemos sua mãe Rosie, que ama as artes, ama dançar, falar sobre liberdade, sobre o fim da guerra e sobre uma vida feliz. Os diálogos entre mãe e filho são, com certeza, o grande destaque desse filme. Enquanto Hitler, o amigo imaginário de Jojo, alimenta o jovem falando sobre a destruição dos inimigos e o poder que a guerra pode trazer para o país, Rosie marca uma contrapartida, falando sobre as coisas que realmente importam na vida, mesmo que seu filho ache isso tudo uma besteira.
Qual surpresa de Jojo quando descobre que sua mãe mantinha escondido no sótão da casa uma menina judia, que não possuía nenhuma das características que ele imaginava. Com o passar do tempo, Jojo Rabbit começa a conversar com essa menina, e se questionar sobre suas crenças e seus sonhos. Começa aí uma série de questionamentos internos que nem Jojo e nem seu amigo imaginário Adolf sabem responder: torcendo pela guerra, torcendo para exterminar seus inimigos, porém, mantendo uma amizade improvável com uma jovem judia.
Jojo Rabbit é uma pérola do cinema, que consegue mostrar o horror da guerra de um jeito muito leve e belo. Pelo olhar de uma criança que se questiona, podemos nós também, principalmente nesses dias que vivemos, nos questionar onde a violência e o ódio podemos nos levar. Vemos na tela crianças lutando e carregando armas mais pesadas que elas próprias por causa de uma briga de adultos que estão em seus gabinetes, longe de tudo. Vemos um coração belo de uma mãe acolhedora e amorosa, diante de um coração inocente de uma criança tomado de ódio e rancor. E o mais belo de tudo, é que a mãe não culpa seu filho, mas o acolhe com amor.
Quantas vezes nós também somos levados a guardar ressentimentos em nossos corações por opinião de outros que nos foram impostas. Vemos nas redes sociais várias discussões de pessoas que fazem de tudo para defender seu ponto de vista e dizer que um lado ou outro está certo, mas que pouco se preocupam de verdade com os horrores que essa guerra traz. No Evangelho de João, Jesus nos diz qual sua grande missão nesse mundo: “eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). É missão de todos nós cristãos vencermos essa guerra. E não vencemos destruindo o nosso próximo. Só conseguiremos vencer através do amor. São Paulo nos indica na sua carta aos Coríntios, no capítulo 13 como o amor age em nossas vidas: é paciente, é prestativo, não guarda rancor, não se alegra com a injustiça, não se inflama de orgulho… Jamais nos cansemos de rezar por todos nossos irmãos que sofrem em zonas de guerra. Essa guerra não está distante de nós: está em nossos irmãos e irmãs, nos filhos desse mesmo e único Deus. Rezemos por eles. Rezemos pelo fim dessa guerra. E que o Deus da paz cuide de cada um de nós.
Jojo Rabbit
Taika Waititi, 2019
Drama/Guerra – 1h48
Disponível em Star+
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Por
Padre Tiago Felipe Polonha | Arquidiocese de Curitiba