ARTIGO: Mãe Maria, mulher lembrada em maio

Uma mãe singular vem chamada de Theotókos (= Mãe de Deus) pelo povo cristão primitivo já desde o século IV. Importante recordação daquela que esteve aos pés da cruz e a quem o Filho disse: “Mulher, eis o teu filho. E disse ao discípulo: Eis a tua Mãe” (Jo 19, 26-27).

O impulso maior à devoção mariana ganhou corpo com o Concílio de Éfeso (431) que proclamou a Maternidade Divina de Maria, a ponto do Cânon Romano, por volta do Pontificado de São Leão Magno (440-461) apresentar a memória “antes de tudo da gloriosa Virgem Maria, Mãe de Deus e de Nosso Senhor Jesus Cristo”.

É certo que a devoção popular a Maria foi muitas vezes censurada, para não se correr o risco de considerá-la uma deusa. O medo era de uma transposição, de que se caísse em uma espécie de culto idolátrico. Pensava-se no perigo da Mãe de Jesus ser relacionada, por exemplo, ao tributo à deusa Cibele, considerada na mitologia como mãe dos deuses.

No Oriente e no Ocidente, as Festas Marianas vão ganhando corpo na Idade Antiga, a ponto de o Culto Mariano adquirir um tom de grande religiosidade popular, surgindo muitas festas que lembram a Mãe de Jesus. Então, no século XII, à época da cristandade medieval, com a centralização reforçada pelo Papa Gregório VII, muitas Igrejas começam a receber um título mariano. Este orago era colocado junto ao culto dos santos e dos mártires ou substituindo a estes. Tal relevância mariana vem ressaltada pelo Concílio Vaticano II, como expressa a Sacrossanctum Concilium (n. 103): “Para a Igreja medieval, a Mãe de Deus torna-se imagem de tudo o que ela aspira ser”.

A veneração mariana na Liturgia e nas devoções festivas floresceu e cresceu muito na Idade Média, tendo uma mulher do céu como modelo na terra, e assim no Ocidente espalha-se a devoção à Virgem Assunta (Maria elevada ao Céu) com sua festa em 15 de agosto. Surge também o costume do Tricesimum Marianum, que ganha força no século XVI. Este consistia em trinta dias de orações em honra da Virgem Maria. Celebrava-se o Tricesimum Marianum (=um mês para Maria) entre 15 de agosto e 14 de setembro. Porém, como no Hemisfério Norte a primavera (tempo das flores) é no mês de maio, considerando ainda que 1º de maio era tido como “o auge da primavera”, a relação com esta agradável estação do ano fez com que o Tricesimum Marianum (= os 30 dias de Maria) começasse a ser celebrado em maio. A poesia e a tradição andam juntas, ressaltando a figura de Maria que ao cumprir a vontade divina “fez florescer como humano” aquele que traz salvação.

Embora no Hemisfério Sul o mês de maio situe-se no outono, a tradição e a evangelização europeia fizeram-no lembrado como Mês de Maria. É o que se vê até os dias de hoje, depois de séculos de devoção consolidada neste período.

Interessante na atualidade é recordar aquela que convida a viver a Palavra de Deus. Maria mesma disse: “Faça-se em mim conforme a vossa palavra” (Lc 1,38). Ela vem “chamada bem aventurada por ser crente. Maria acreditou como Abraão, pai de Israel. É de sua mesma raça, á autentica filha de Abraão. Isabel sabe que seu esposo continua mudo por sua descrença e que ela precisou se esconder em casa. Maria, a crente, não obstante essa, pode falar. Maria não se esconde em casa, mas sai dela, lança-se a realizar uma viagem para a região montanhosa. A fé lhe dá a palavra e a mobilidade. A palavra, a voz de Maria, transforma as pessoas, suscita a alegria dos últimos tempos. E, por acolher a Palavra e crer nela, Maria proclamará seu Magnificat”. (Jose Cristo Rey García Paredes, in: Mariologia: síntese bíblica, histórica e sistemática.  2011, p. 98).

Em um mundo cheio de desigualdades e violência, marcado por fome, peste e guerras, eficaz é orar pela Paz, especialmente para que a mensagem de Jesus Cristo seja conhecida, tal como propõe o Papa Francisco no final de sua Carta Apostólica Evangelii Gaudium (= A Alegria do Evangelho). REZEMOS: Virgem e Mãe Maria, Vós que, movida pelo Espírito, acolhestes o Verbo da vida na profundidade da vossa fé humilde, totalmente entregue ao Eterno, ajudai-nos a dizer o nosso “sim” perante a urgência, mais imperiosa do que nunca, de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus. Vós, que permanecestes firme diante da Cruz com uma fé inabalável, e recebestes a jubilosa consolação da ressurreição, reunistes os discípulos à espera do Espírito para que nascesse a Igreja evangelizadora. Vós, Virgem da escuta e da contemplação, Mãe do amor, esposa das núpcias Eternas intercedei pela Igreja, da qual sois o ícone puríssimo, para que ela nunca se feche nem se detenha na sua paixão por instaurar o Reino. Estrela da nova evangelização, ajudai-nos a refulgir com o testemunho da comunhão, do serviço, da fé ardente e generosa, da justiça e do amor aos pobres, para que a alegria do Evangelho chegue até aos confins da terra e nenhuma periferia fique privada da sua luz. Mãe do Evangelho vivente, manancial de alegria para os pequeninos, Rogai por nós.

Salve a Mãe Maria, mulher lembrada em maio. Que ela nos ajude a viver o que seu filho Jesus Cristo nos pede. AMÉM!

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Por

Padre Fabiano Dias Pinto, Reitor do Seminário Rainha dos Apóstolos da Arquidiocese de Curitiba