O Bioma Mata Atlântica – CF-2017

Cultivar e Guardar a Criação (Gênesis 2, 15) – você sabia?

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Neste ano de 2017 a Igreja contempla e celebra as bonitezas da criação, a partir dos seis biomas que formam a vida nas suas diversidades existentes no território brasileiro. Em cada um deles encontram-se diferentes formas de vida que juntas formam o universo de diversidades, que se buscam e se completam. Existem neles diferentes etnias, culturas, climas, tipos de árvores, sementes e frutos e também diversas formas de se reconhecer e se viver o Sagrado. Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, do ano de 2014, quase 72% da população brasileira vive no bioma Mata Atlântica. Este é o mais afetado pelos efeitos da urbanização, pois nele se encontram as maiores cidades do Brasil.

A Campanha da Fraternidade 2017 tem como objetivo geral cuidar da criação, de modo especial dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho.

Bioma Mata Atlântica no Brasil

Compreendia uma área de 1.315.460 km2, ocupando os Estados RS, SC, PR, SP, GO, MS, RJ, MG, ES, BA, AL, SE, PB, PE, RN, CE e PI. Hoje só restam 12,5% daquela riqueza que encantou os colonizadores. É uma das áreas mais ricas e ameaçadas do planeta. É Reserva da Biosfera (Unesco) e Patrimônio Nacional. Desde o descobrimento que ela vem sendo destruída. As plantações foram responsáveis pela destruição da vegetação nativa e a preservação de espécies sendo prejudicada também pela poluição. A exploração predatória devastou a Floresta das Araucárias e, segundo o Instituto Mata Atlântica, a região de Curitiba é a mais devastada, preservando pouco mais de 1% (um por cento) dependendo do critério de medida. A Mata Atlântica abriga a maioria das nossas capitais litorâneas e regiões metropolitanas, exigindo atenção para políticas públicas, sobretudo de Saneamento Básico.

Segundo o Instituto Trata Brasil, que forneceu os dados do Saneamento Básico para a Campanha da Fraternidade de 2016, Curitiba tem o segundo rio mais poluído do Brasil, que é o rio Iguaçu. Este dado é confirmado também pelo IBGE. O convite que a Igreja nos faz é para um reencantamento com a criação, que nos desperte para o cuidado, pois para o teólogo Leonardo Boff, “o sintoma mais doloroso, já constatado há décadas por sérios analistas e pensadores contemporâneos, é um difuso mal-estar da civilização. Aparece sob o fenômeno do descuido, do descaso e do abandono, numa palavra, da falta de cuidado” (BOFF, 2008, p 18). É para este cuidado que a Campanha da Fraternidade de 2017 quer nos despertar.

A Mata Atlântica possui muitos manguezais, que até o autor do hino da CF-2017 fez referência no refrão: “Da Amazônia até os Pampas, do Cerrado aos Manguezais, chegue a ti o nosso canto, pela vida e pela paz” (CNBB, 2016, p 135). De fato, alguns pesquisadores defendem a tese de que os manguezais formam um bioma específico, podendo ser assim, o sétimo bioma brasileiro. Sobre eles assim diz o Texto Base: “Os manguezais, por estarem estabelecidos em áreas abrigadas, apresentam alta produtividade, são considerados como berçários naturais para muitas espécies de moluscos, crustáceos, peixes, repteis e aves garantindo o crescimento e sobrevivência desses organismos” (IBIDEM, p 50).

A Mata Atlântica em Curitiba

Com relação à Mata Atlântica em Curitiba, existe uma controvérsia. Quando a metodologia considera apenas a área mínima de identificação preservada acima de 3 ha (hectares), a capital paranaense tem apenas 1,3%. Porém, a pesquisa feita em parceira entre a ONG SOS Mata Atlântica e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que reduz a área mínima de identificação para 1 ha (hectare), chega a 8,6%, segundo artigo da SOS Mata Atlântica – SOSMA, publicado em agosto de 2016. Márcia Hirota, diretora da ONG, defende a nova metodologia: “É muito mais detalhado. A metodologia reduz de 3 hectares para 1 ha a área mínima de identificação das imagens captadas por satélite. A partir disso, conseguimos visualizar áreas menores, fragmentos florestais em estágios iniciais de regeneração” (SOSMA, 2016).

A criação é interdependente pela vontade de Deus

O Papa Francisco nos alerta sobre a importância de preservar todas as formas de vida, devido à interdependência existente entre elas. Quando uma espécie é extinta decreta-se automaticamente o fim de outra em seguida. “O sol e a lua, o cedro e a florzinha, a águia e o pardal: o espetáculo das suas incontáveis diversidades e desigualdades significa que nenhuma criatura se basta e si mesma. Elas só existem na dependência umas das outras, para se completarem mutuamente no serviço umas das outras” (LS, nº 86).

Por diversas razões a espécie humana depende não apenas das outras espécies para continuar vivendo e garantir a própria existência das próximas gerações. Depende, em primeiro lugar, de sua capacidade de cultivar e guardar a criação. A receita é conhecer para admirar e a partir dessa admiração chegar ao reencantamento proposto pela Campanha da Fraternidade, despertando o interesse de preservar. Para Erich Fromm, “’Interesse’ vem do latim ‘interesse’, isto é, estar entre. Se estou interessado, devo transcender meu ego, ser aberto para o mundo e saltar dentro dele. O interesse baseia-se na atividade. É a atitude relativamente constante que permite que, a qualquer momento, a pessoa compreenda intelectualmente e também emocional e sensualmente, o mundo exterior” (FROMM, s/d p 99). Está interessado é está encantado, apaixonado como Deus se revela no primeiro relato da criação (Gênesis 1, 1 – 2,4a).

Curitiba tem importantes iniciativas de preservação dos campos e das reservas de Mata Atlântica, mas que necessitam de uma ação mais concreta de toda a municipalidade para que não fiquem apenas no papel. Vejamos o exemplo do decreto Lei 14985/2016, que cria a Estação Ecológica Campos Naturais de Curitiba Teresa Urban, garantindo assim a conservação da última área contínua de campos naturais da cidade.

“É com grande honra que tenho em um dos meus últimos atos como prefeito a assinatura deste instrumento de proteção para esta importante área que leva o nome de uma querida amiga e combativa militante das causas ambientais, a jornalista Tereza Urban. Me despeço desta gestão sabendo que fizemos o melhor para o meio ambiente, deixando mais de 10 milhões de metros quadrados de áreas protegidas, que somando-se às três milhões já existentes, garantem uma área de 13 milhões de metros quadrados de área verde, dentro da capital, protegidas da especulação imobiliária e da degradação”, enfatiza Fruet (PAM, 27/12/2016)

Curitiba, 19 de Março de 2017 – Dia de São José, Padroeiro das Famílias.

João Ferreira Santiago.
Teólogo, Poeta e Militante.
Coordenador da CF-2017 na Arquidiocese de Curitiba

Para aprofundar

  • CNBB. Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Texto Base da Campanha da Fraternidade de 2017. Brasília-DF: Edições CNBB, 2016.
  • BOFF, Leonardo. Saber Cuidar – Ética do humano – compaixão pela terra. Petrópolis-RJ: Vozes, 15ª edição, 2008.
  • FROMM, Erich. A revelação da esperança – por uma tecnologia humanizada. São Paulo: Circulo do Livro, s/d.
  • PAM. Portal Administrativo do Município de Curitiba – www.curitiba.pr.gov.br
  • PAPA, Francisco. Carta Encíclica LAUDATO SI’ – Sobre o Cuidado da Casa Comum. Brasília-DF: Edições CNBB, 2015.
  • www.sosma.org.br