Jury Duty, ou Na Mira do Júri, em português, é uma série documental que tem como objetivo filmar um julgamento mostrando os bastidores e discussões de um grupo de jurados sobre uma a culpa ou não de um réu. Acompanhamos os depoimentos de testemunhas, as atitudes dos advogados, a defesa e as acusações, as ações do juiz, etc, mas tudo isso fica em segundo plano frente aos diálogos e depoimentos daquele grupo escolhido para julgar esse caso. Parece maçante ter que acompanhar tudo isso, mas essa série ganha destaque porque desde o início descobrimos que tudo é falso. Todas as pessoas envolvidas nesse julgamento são atores interpretando papéis. Exceto uma pessoa: Ronald Gladden.
Ronald é uma pessoa normal que foi convocado a fazer parte de um tribunal e aceitou gravar depoimentos pensando que participaria de um documentário. Mas o que ele não sabia era que tudo isso não passava de uma pegadinha. Todas as situações eram roteirizadas e todos seus colegas no júri eram atores contratados. E por mais que as situações chegassem ao absurdo da comédia, Ronald exercia com excelência seu papel de jurado, analisando cada detalhe dos falsos depoimentos para chegar a uma conclusão justa, sem perceber que tudo isso não passava de uma grande câmera escondida.
A série conta com oito episódios e a cada momento nos aprofundamos mais nas maluquices desse grupo de jurados e no absurdo caso a ser julgado. Em todas as situações cômicas dos jurados, não conseguimos desviar os olhos de Ronald, que participa de tudo na maior inocência, com seus sorrisos constrangidos e carisma próprio. Apesar de ser apenas uma pessoa normal, conseguimos perceber logo de início que Ronald possui um bom coração. Em momentos constrangedores, onde muitos poderiam julgar a situação ou se afastar das pessoas, Ronald consegue ser acolhedor e oferecer amizade e conselhos para todos. Esse é o grande triunfo dessa série: mostrar um ser humano bom, amigo e justo no julgamento.
Nesse reality show onde apenas uma pessoa não é ator, percebemos o senso de realidade de Ronald e é difícil não simpatizar com esse rapaz. Em um dos episódios, numa festa de aniversário onde tudo dá errado, a cara de tristeza de Ronald, que ajudou na organização para alegrar um amigo necessitado, quando vê o bolo sendo destruído, mostra que ele realmente consegue se importar com a dor do outro. Em outro episódio, em seu quarto do hotel, um dos seus colegas apronta uma coisa constrangedora e ele assume a culpa, para não entregar seu colega. Sem obrigação nenhuma, aceita esse constrangimento para não envergonhar outra pessoa. Essas e outras situações ao longo da série vai tornando Na Mira do Júri uma das grandes comédias do ano e nos levando a refletir sobre nossas atitudes com os demais.
Ao encerrar a série, não conseguimos deixar de lado uma reflexão sobre a bondade no coração humano. Somos bombardeados diariamente pela televisão e pelas redes sociais com notícias ruins, com maldade, guerras, roubos, assassinatos, corrupção e tantas outras maldades. Muitas vezes somos levados a pensar que a humanidade não tem mais solução. Dizemos tantas vezes que o mundo está perdido e, de fato, é isso que conseguimos ver acompanhando as notícias. Aí chegamos à série onde somos expostos a situações absurdas e a única pessoa verdadeira que não sabe que está sendo observado é alguém bom, que consegue se preocupar com os outros, consegue acolher todos e mostrar compromisso com a sua função.
Nesse momento lembramos que o mundo ainda é bom. As pessoas boas são a maioria. Não estamos sozinhos nesse mundo. Mesmo que o mal faça mais barulho e chame mais atenção, existem milhares de pessoas anônimas no mundo lutando pelo bem, fazendo caridade, acolhendo os que precisam. Olhemos para nossas paróquias: quantos voluntários dedicam a vida para fazer o bem, para acolher quem está com a vida desestruturada, para dar uma palavra de conforto, para visitar um doente ou um idoso, ou simplesmente para dar um sorriso na porta da igreja quando chegamos? As vezes precisamos lembrar que quando Deus criou o mundo, contemplando sua obra viu que “tudo era muito bom” e por fim, essa bondade precisa e vai prevalecer.
Não nos cansemos de fazer o bem. Não desistamos de lutar pela justiça. Por mais que as vezes pareça que nosso trabalho é inútil e que somos impotentes diante do mal, ainda somos a maioria, ainda somos mais fortes. Encerro com uma frase de Santa Teresa de Calcutá: “por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota”. Não precisamos de dons extraordinários para mudar o mundo, precisamos de um coração aberto e disposto a vivenciar o amor com todos. Deus nos ajude a nos mantermos fieis à nossa missão.
Na Mira do Júri
Criado por: Lee Eisenberg e Gene Stupnitsky, 2023
Reality/Comédia – 1 temporada
Disponível em Prime Video
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Texto escrito pelo Padre Tiago Felipe Polonha da Arquidiocese de Curitiba