O XXI Capítulo Geral do Instituto Marista propõe “uma nova relação entre Irmãos e Leigos, baseada na comunhão, buscando juntos uma maior vitalidade do Carisma Marista para o nosso mundo”. Nas proximidades da celebração do Bicentenário Marista, este é um apelo que muito em breve poderá ser atendido, se depender da vontade das juventudes da Província Marista Brasil Centro-Sul.
Entre os dias 16 e 17 de abril, mais de 70 jovens de 15 diferentes cidades estiveram reunidos em Curitiba para o Encontro “Carisma e Compromisso” – atividade destinada aos egressos Maristas. Deste encontro, nasce o Laicato Jovem Marista, que começa a trilhar um ousado caminho com uma nova forma de vivência dos valores de Maria e do carisma de Champagnat.
No primeiro dia de encontro, após a acolhida dos participantes, houve um momento profundo e significativo de reflexão inspirado no itinerário dos discípulos de Emaús. Os colaboradores Ângelo Diniz e Laura Ferraz trouxeram a perspectiva do discípulo-missionário que cada jovem é convidado a ser, a partir do encontro verdadeiro com o Cristo Ressuscitado. Junto ao partilhar do pão, representado por uma dinâmica, deixou-se a todos a pergunta: “Não ardia o nosso coração quando Ele nos falava pelo caminho?” (Lc 24,32).
Em seguida, os jovens receberam o pesquisador e historiador francês Marista, Ir. André Lanfrey. Ele contou a trajetória do Ir. Francisco Rivat, o primeiro sucessor de Marcelino Champagnat. Segundo Lanfrey, o Irmão ingressou na congregação com apenas 11 anos, com 18 fez votos perpétuos e em seguida foi eleito Superior Geral. Embora tenha sido uma personalidade incompreendida no seu tempo, se dedicou profundamente ao Instituto, organizando o mesmo e criando uma ordem de leigos. O Irmão Francisco foi escolhido como referencial Marista do Laicato Jovem justamente pela coragem de não somente dar continuidade ao sonho do fundador, como também contribuir com o crescimento da Instituição.
O Ir. Lanfrey definiu o Ir. Francisco como um homem que assumiu compromissos muito cedo e de forma engajada. Afirmou também que hoje a nossa juventude tem dificuldade de se comprometer por muito tempo. O jovem Guilherme Perotta, ex-aluno do Colégio Marista Paranaense e ex-participante da PJM, acredita que os jovens devem ficar com a essência da fala do Ir. Lanfrey. “Nós, jovens, Maristas de Champagnat, devemos ter o Ir. Francisco como exemplo; devemos assumir um compromisso sério com esta proposta de laicato; devemos formar nossos grupos e levar adiante esta nova forma de vivência do carisma”, afirmou.
Outro momento importante do primeiro dia do encontro foi o trabalho realizado pelo Ir. João Batista Pereira, Diretor Institucional do Setor de Pastoral. Ele mostrou aos jovens a importância de se ter um projeto de vida tanto pessoal quanto comunitário, como também a necessidade do planejamento para uma boa realização desses projetos. De acordo com Ananda Perardt, ex-educanda do Centro Social Marista de Itapejara D’Oeste e ex-participante da PJM, a fala do Ir. João foi fundamental. “No ano passado nós formamos um grupo laical jovem na nossa cidade; se não fosse esta orientação sobre planejamento e comprometimento, não sei se teríamos evoluído no nosso trabalho e na forma como vivenciamos o Carisma”, explicou.
No final do dia, houve uma missa na paróquia da comunidade e, por fim, uma celebração vivencial em torno do tema da fraternidade, rememorando a terna relação entre Champagnat e os primeiros Irmãos. Foi um grande momento de partilhas sinceras e profundas das juventudes.
O segundo dia de encontro iniciou com uma dinâmica realizada pelo João Fedel Gonçalves, do Setor de Vida Consagrada e Laicato. Ele chamou alguns jovens para montar a tenda do Carisma Marista. Com a metáfora, explicou que antigamente somente Irmãos entravam neste espaço. Depois, em 1985, com o Movimento Champagnat da Família Marista, houve o alargamento desta tenda, com a entrada dos Leigos. Hoje, busca-se a construção de uma nova tenda que abarque a todos, com uma nova relação entre Irmãos e Leigos e outras formas de pertença e vivência do Carisma.
Mais um ponto sinalizado na fala do João foi a necessidade de revisão do documento “Em torno da mesma mesa”, desta vez incluindo a voz dos jovens. Para ele, no momento em que o documento foi escrito pelo Instituto não havia tanto envolvimento deste público no Laicato. Ele finalizou sua explanação utilizando como símbolo o cajado dos caminhantes. “É importante que cada jovem tenha um cajado à sua medida, ou seja, viva um itinerário pessoal no carisma e siga pelo caminho, desbravando novos territórios”, afirmou.
O segundo momento da programação contou com a presença do grupo laical “Perdidos na neve”, formado por oito leigos da Província. Há 2 anos eles se reúnem para partilhar a vida, fazer a leitura e reflexão dos documentos Maristas e encontrar formas de estabelecer uma nova relação com os Irmãos. Os adultos leigos deste grupo encorajaram os jovens a desenvolverem o laicato. Disseram que sempre haverá dificuldade, mas que é possível seguir em frente.
De acordo com Rosana Alves, inicialmente o nome do grupo fazia jus ao que ocorria. “Estávamos literalmente perdidos, sem saber como organizar os encontros do grupo laical; mas depois, com o tempo, fomos encontrando o nosso jeito próprio de vivenciar o carisma”, afirmou. Ernesto Sienna, também participante deste grupo, disse que o Laicato Jovem incipiente é como a visão da janela da Casa de La Valla: o horizonte e o futuro do Instituto.
Para fechar o momento, os participantes contaram com a presença do colaborador Bruno Socher, que explicou sobre a sua participação no projeto “Comunidades Internacionais”. Seu objetivo foi mostrar para os jovens que além do Laicato existem outras formas de vivência do carisma de Champagnat. Também houve o momento em que os jovens ouviram o depoimento da ex-aluna Marista Flávia Meirelles, que está participando do Programa de Voluntariado AdGentes, no Camboja.
Em seguida, o colaborador Diogo Luiz Galline, do Setor de Pastoral, apresentou aos jovens a versão-mártir do Laicato Jovem Marista e encaminhou orientações e diretrizes para a formação dos primeiros grupos. A partir desta conversa, os participantes reuniram-se por cidades e dialogaram a respeito da proposta e de suas expectativas. Encerrou-se com a partilha e discussão das ideias que surgiram.
De acordo com João Sedrez, ex-aluno do Colégio Marista Arquidiocesano, integrante da PJM e ex-integrante da Comissão Provincial de Juventude, nunca antes a Província teve tantos ex-alunos e ex-educandos interessados em dar continuidade à vivência do Carisma Marista. “Este movimento do Laicato é uma tentativa de dar continuidade à vida Marista, mesmo quando saímos do Colégio ou da Unidade Social”. João tem grandes expectativas em relação a criação de um grupo laical jovem em São Paulo, com pessoas provenientes dos colégios e das unidades sociais. Ele acredita que a diversidade trará uma grande riqueza para as discussões e partilha de vida.
Para o Guilherme Perotta, o Laicato Jovem é bem importante porque é uma forma de ver o Carisma Marista de maneira mais ampla e madura. Quem sai da Unidade espera algo além e esta proposta vem pra suprir esta necessidade. “Ser leigo é uma vocação de compromisso com o carisma e nós esperamos que ele seja perene e que se transforme num vínculo muito forte com o Instituto”, finaliza.
O Encontro teve o seu encerramento com uma celebração de compromisso, à qual remeteu a promessa realizada há quase duzentos anos pelos doze jovens que subiram a colina de Fourvière para entregar suas vidas e obras a Maria. Os participantes assumiram o compromisso com a vivência do Carisma depositando suas promessas aos pés da imagem da Boa Mãe.
O Setor de Pastoral, parafraseando o poeta espanhol Antônio Machado, deseja que esses jovens sigam “fazendo caminho ao caminhar”, animados pelo Espírito de Deus e inspirados pela herança deixada por Marcelino, a fim de que se fortaleçam cada vez mais como autênticos Maristas Jovens de Champagnat.
Fonte: Grupo Marista