O Auto da Compadecida: um dos maiores clássicos brasileiros nos diverte e nos ensina sobre a fé

O mês de maio é o mês que celebramos o Dia das Mães. Para nós, católicos, esse mês se reveste de uma beleza singular, pois celebramos o mês de Nossa Senhora. É reconfortante saber que temos uma mãe que cuida de nós com tanto carinho, pois ela recebeu essa missão das mãos de seu próprio Filho lá na Cruz: “mulher, eis aí seu filho!”.

No cinema, já vimos várias representações de Nossa Senhora em filmes religiosos ou documentários sobre suas aparições. Mas tem um filme que tem um destaque muito especial para a intercessão de Nossa Senhora, a ponto de ser chamada, como a Igreja a reconhece, de “advogada nossa”. E o mais legal é que esse filme é nosso, com nossas características brasileiras: O Auto da Compadecida.

Recentemente foi divulgada a informação que está em produção a sequencia do filme original, lá dos anos 2000. Quase 25 anos depois, O Auto da Compadecida ganhará uma continuidade nos cinemas. E a reação na internet foi de grande euforia. O que esse filme tem de tão especial que tantos anos depois ainda é tão comentado e tão querido pelos espectadores?

O Auto da Compadecida conta a história de um pequeno vilarejo no sertão nordestino, apresentando personagens tão icônicos e suas vivências do dia a dia: o padeiro Eurico e sua esposa Dora, os amigos João Grilo e Chicó, o padre João e o bispo. Todos eles se apresentam cheios de problemas e erros nas suas vidas: Dora vive traindo seu marido; Eurico é ganancioso; o bispo trata cada pessoa diferente dependendo de sua classe social; padre João é apegado ao dinheiro; Chicó é medroso; e João Grilo é malandro e enganador.

No meio das confusões do dia a dia, o vilarejo acaba sendo atacado por um grupo de cangaceiros e todos os personagens, com exceção de Chicó, acabam morrendo e indo para o julgamento final, diante de Jesus e do diabo. Nessa hora, João Grilo invoca a proteção de Nossa Senhora, que também aparece no julgamento para defender seus filhos. Sem perder o tom cômico do filme, a história se reveste de uma beleza sem igual quando, a cada acusação do diabo, Nossa Senhora argumenta em favor dos filhos assustados.

As cenas mais lindas do filme acontecem na defesa de João Grilo. Em um momento ele implica que o diabo não tem mãe e o chama de “filho de chocadeira”, o que gera muita raiva e uma tentativa de ataque, mas nesse momento João se esconde atrás do manto de Nossa Senhora, que o protege e enfrenta o inimigo. Também no final do filme quando o pai da mentira convence João Grilo que ele deve ir para o inferno, Nossa Senhora grita desesperada para João não se entregar. Como mãe, ela faz de tudo para não perder seu filho.

É maravilhoso como um filme consegue ser tão engraçado e tão profundo ao mesmo tempo. Talvez, ao vermos a imagem de Nossa Senhora em cima dos altares de nossas igrejas, muitas vezes esquecemos de olhar para ela com o bom humor característico dos cristãos. Papa Francisco sempre nos alerta que o cristão deve ser alegre, que isso é dom do Espírito Santo. O Auto da Compadecida nos mostra que é possível viver uma experiência de fé com sorrisos. Percebemos uma mãe que cuida de nós como uma advogada, e mesmo quando tudo parece perdido, ela nos carrega no colo e luta por nós.

Nesse mês de maio, tenhamos a certeza que não estamos sozinhos. Jesus é o centro da nossa fé. Só Ele nos salva e só Ele deu a vida em nosso resgate. Mas como é bom contar com o carinho e o cuidado de uma mãe que nunca vai nos deixar. Como dizia o próprio João Grilo, alguém que é “gente como a gente”, que está pertinho de nós. Todas as vezes que o inimigo nos atacar, podemos dizer como crianças “vou contar tudo pra minha mãe” e ter a certeza que ela vai nos proteger. Maria é nossa mãe e é nossa advogada. Olhemos com todo amor que ela merece nesse mês de maio. Rezemos pedindo que ela nos guarde, nos proteja. Rezemos o terço, na certeza que é nossa arma contra as tentações.

Ser cristão é ser “outro Cristo” no mundo. Como Cristo fez, demonstremos nosso amor a Maria, deixemos ser cuidado e protegido por essa mãe e experimentemos esse colo amoroso daquela que sempre estará ao nosso lado. E se você ainda não conhece esse clássico do cinema brasileiro, não perca tempo e corra assistir O Auto da Compadecida. Tenho certeza que ao menos se divertirá um pouco em família.

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O Auto da Compadecida

Guel Arraes, 2000

Comédia/Aventura – 1h44

Disponível no Globoplay

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Por

Pe. Tiago Felipe Polonha