Pastoral Carcerária realiza assembleia e reforça luta por mundo sem cárceres

A Pastoral Carcerária do Paraná realizou na última semana sua assembleia eletiva. O encontro foi virtual, e contou com a participação de mais de 50 agentes ao longo do fim de semana. Na sexta-feira (17), a assembleia teve início.

Irmã Petra, coordenadora nacional da PCr, fez uma análise de conjuntura no Brasil e no estado sobre a situação dos cárceres nesse período desafiador. Em seguida, o assessor jurídico da PCr no estado, Dr. Marcos, fez uma formação sobre o regimento interno da pastoral. A assembleia também contou com a participação de D. Peruzo, bispo referencial da Pcr no Paraná.

A Ir. Luciene Toledo foi reeleita como coordenadora da Pastoral, e falou ao site da PCr sobre os avanços durante sua coordenação, e os desafios a serem enfrentados.

Um regimento interno da PCr no estado foi criado e aprovado; a PCr foi implantada em mais duas dioceses, Guarapuava e Paranavaí, e os agentes estavam atuando até o início da pandemia. Desde então, eles estão focados dar assistência às famílias e no processo de formação.

Em relação à formação, houve um encontro de agentes da PCr na província de Cascavel. Há mais três encontros de formação previstos nas províncias de Curitiba, Londrina e Maringá, que ainda não foram realizados por conta da pandemia. A coordenação também quer dar início à formação de Justiça Restaurativa (JR) no Estado inteiro.

A coordenação também se articulou para fortalecer os familiares e denunciar as violações do cárcere. Por meio da Agenda Nacional Pelo Desencarceramento, foi criada a Frente Estadual do Desencarceramento em Massa, atualmente conduzida pelos familiares. E na Assembleia Legislativa do Paraná, foi feita uma audiência pública, com participação das autoridades, que ouviram os familiares dos presos.

A coordenação também tem participado efetivamente no Conselho da Comunidade de Curitiba, e, com a pandemia, compõe ativamente o GT saúde, coordenador pelo GMF (Grupo de Monitoramento e Fiscalização) e o Comitê Carcerário da Covid-19.

Ir. Luciene vê como um dos maiores desafios o combate à tortura no cárcere. “Precisamos acompanhar nas visitas e encontrar vias legais de resolver isso”, e analisa que a proposta a nível nacional de implantação de rádios religiosas, que substituiriam o atendimento religioso, podem prejudicar essa fiscalização e contato pessoal, fazendo com que muitas torturas e violações de direitos não sejam fiscalizadas.

Ao final da assembleia, os participantes redigiram uma carta, que você pode ler abaixo:

CARTA ABERTA DA ASSEMBLEIA DA PASTORAL CARCERÁRIA CNBB SUL 2

O Espírito do Senhor está sobre mim,
porque ele me ungiu para anunciar boa nova aos pobres.
Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos (…)
Lucas 4,18

À Igreja do Paraná, às autoridades públicas e toda sociedade,

Reunidos em Assembleia Regional, de modo virtual, nos dias 17 e 18 de setembro, nós, os agentes de Pastoral Carcerária do Regional da CNBB Sul 2, leigos e leigas, religiosas e religiosos, diáconos, padres e bispo das dioceses de São José dos Pinhais, Curitiba, Guarapuava, Jacarezinho, Londrina, Maringá, Paranavai, Umuarama, Campo Mourão, Toledo, Cascável, Foz do Iguaçu e Palmas-Francisco Beltão, com o com o propósito de discutir e discernir os rumos da pastoral e eleger a nova coordenação para o próximos triênio, reafirmamos o nosso compromisso de evangelizar e promover a dignidade como Igreja em saída, na buscade um mundo sem cárceres.

Frente aos históricos sofrimentos causados pelo encarceramento e aprofundados pela pandemia de COVID, nós assumimos a missão do projeto de Jesus de Nazaré: anunciar tempos de liberdade. Somos chamados a acolher, escutar e rezar junto com a pessoa presa, testemunhando o Amor de Deus. Contribuímos também com os familiares das pessoas.

Por isso, a Pastoral precisa estar presente dentro do cárcere. É necessário ter o contato face a face com todos: com os servidores das unidades, com as pessoas privadas de liberdade e com os seus familiares, sendo presença de Deus e sua Igreja, sendo um sinal de Esperança. Tem ainda a Pastoral a função de ajudar a fiscalizar o cárcere, evitar e denunciar injustiças e o racismos estrutural.

Diante da proposta do Depen de implantar o sistema de rádios nos presídios manifestamos nosso desconforto com a ideia, pois nossa proposta de pastoral é de presença junto aos encarcerados e não podemos abrir mão deste modo de agir.

Lutamos por um mundo sem cárcere e pela dignidade de todos, mesmo estando privados de liberdade. Não podemos deixar e ir ao encontro dos irmãos e irmãs privados de liberdade, pois este é o mandato de nosso Senhor Jesus Cristo: “Estive preso e foste me visitar” (Mt,25,36).

Por um mundo sem cárceres,
Pastoral Carcerária SUL 2