Pe. Marcos Gumieiro relata realidade da missão em Angola

DSC04381
O coordenador do COMIRE, Odaril José da Rosa, recebeu do Pe. Marcos Gumieiro, da Congregação da Missão (Vicentinos) que está em missão em Angola, um relato sobre a realidade a qual está acompanhando. Abaixo, Odaril transcreve a carta que recebeu do Pe. Marcos.

“Caro Amigo Odaril,  espero que estejas bem de saúde e vivenciando bem o ano missionário da Arquidiocese. Hoje completo dois meses em Angola e te envio uma copia da carta que escrevi ao provincial Pe. Fabiano.

Pequeno texto sobre a realidade da missão em  Angola.

Esperei passar um tempo para poder conhecer um pouco mais as comunidades, os coirmãos, a igreja local, enfim a realidade na qual estou vivendo. No momento, estou me recuperando de uma malária. Como os estrangeiros dizem por aqui: agora sim com a primeira malária você recebeu o “carimbo de Angola”.

Ao contrário da capital Luanda e outras províncias de Angola, aqui, nesta época o clima é agradável parece com o de Curitiba. Estamos nos meses de chuva. A partir de maio começa o período da seca, chamado cacimba.

Cheguei a Angola no dia 30 de janeiro e no dia seguinte na comunidade da missão. Fui bem acolhido pelos coirmãos, que se empenharam para que eu pudesse me ambientar e sentir-me bem.  A casa da missão é modesta e relativamente nova construída em 2005, pois a antiga casa da missão se tornou residência das irmãs durante a guerra e que a missão ficou sem padre residente. Só temos energia elétrica das 18 as 00h, que é produzida por um gerador a óleo diesel fornecida por uma empresa. Quando chove muito ou dá alguma pane no gerador é só esperar a energia elétrica para o próximo dia. Nos primeiros dias é difícil, mas com o passar dos dias vai tornando-se normal. Mais ou menos 98% das casas do distrito de Lombe não têm energia elétrica. Não temos cozinheira e nos revezamos para preparar as refeições e cuidar da casa. Contamos com uma funcionária dois dias por semana para lavar a roupa e organizar um pouco melhor a cozinha. Graças a Deus, ao subsidio que a CM nos envia mensalmente e alguma colaboração da comunidade não nos falta nada. Só temos um carro (Lander Rover) que completou 15 aninhos e que desde que nossos assumiram esta missão ele vem apresentado muitos problemas mecânicos, ultimamente só pega no tranco e anda não mais que 50 km/h.  A CM nos enviou um novo carro que já se encontra em Luanda e em breve estará na Missão. No entanto, estamos esperando mais que o “vigia espera pela aurora”.

A realidade é 98% rural e as pessoas vivem daquilo que produzem: milho, amendoim e, sobretudo a mandioca que é o alimento principal e praticamente faz parte em todas as refeições e também é o produto de venda.

A comunidade missionária é formada por 04 membros: 02 Mexicanos (no momento, um deles se encontra no México para acompanhar a irmã que se encontra muito doente); 01 Nicaraguense e 01 Brasileiro. É uma comunidade bem heterogenia devido à idade, personalidade, cultura, etc., porém com muitos valores positivos e que juntos assumem os desafios da missão segundo o projeto comunitário.

A sede da missão é formada por 05 aldeias unidas e mais 05 setores pastorais com 50 comunidades cristãs. Em 39 delas existe uma capela construída de abobe (blocos fabricados de barro e capim) em estilo e do mesmo material das casas do povo.  Nas comunidades o povo não vive espalhado em propriedades, mas em aldeias, e a roça é um pouco distante da aldeia. Algumas só se têm acesso nesta época de chuva, outras só no tempo de seca. Mais de 50% destas comunidades não tem um catequista ou um animador. A grande dificuldade em encontrar e formar lideranças é o fato do analfabetismo que atinge 90% da população adulta. Segundo a tradição do povo, ser catequista é uma função do homem. Durante os 27 anos de guerra civil praticamente toda a população rural ficou sem estudar, ai entendemos a alta porcentagem de adultos analfabetos.

A educação é precária, vamos encontrar crianças na quarta ou quinta série que ainda não sabem ler ou escrever. Outro fator é a má preparação de professores e o pouco empenho dos mesmos. Pelo fato de não existir escolas de ensino médio nos distritos e no interior, muitos dos adolescentes e jovens (a maioria masculina) vão para as cidades viver na casa de familiares para poder estudar. Na educação também há muita corrupção por parte de diretores e professores tanto no ensino médio quanto nas faculdades.

Na pastoral o grande desafio é: como formar se a maioria dos fiéis adultos é analfabeta?

Nos 05 setores pastorais da missão temos a alfabetização de adultos que é dirigida por um professor catequista. O maior desafio é a perseverança dos alunos que em geral são mulheres e desiste facilmente devido o sobrepeso de atividades que a mulher carrega no dia a dia.

O encontro nas comunidades acontece em forma de rodízio de segunda a sábado as 6:30 hs da manhã, pois é o horário que a comunidade costuma se reunir, depois vão para as lavras (roça). Enquanto um coirmão fica na sede da missão os outros dois vão para duas comunidades que estejam próximas, aproveitando o mesmo veículo. Na visita celebramos a missa ou damos formação ao grupo de catequese de adultos, visitamos os doentes, fazemos alguma reunião, conversamos com o povo, etc. Na sede da missão temos mais grupos e se pode fazer um trabalho de maior acompanhamento.

Como comunidade Vicentina, temos colaborado com alguns ramos da FV que existem em Angola: FC; JMV; AMM. Próxima semana terei um encontro com o presidente da SSVP(primeiro ramo da FV em Angola) para ver em que podemos colaborar. Também auxiliamos em algumas aulas e direção espiritual no Seminário de filosofia Regional (07 dioceses). Retiros e formação para religiosas, etc.

Resumidamente é uma pequena partilha daquilo que tenho vivenciado neste pouco tempo em Angola.”

Unidos na Missão

Fraternalmente

Pe. Marcos Gumieiro,CM