A casa Comum é o maior presente que Deus nos deu, por isso, precisamos urgentemente pensar em ações, estratégias e novas formas de nos relacionarmos com esse bem.
Este é um trecho do texto da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 e nos traz a reflexão sobre o Ecumenismo. O Papa Francisco tem dialogado com as diferentes religiões.
Assim publicamos a seguir o texto da Comissão da Dimensão Social da Arquidiocese de Curitiba sobre Ecumenismo e Missão, como parte dos artigos da revista Voz da Igreja do mês de Abril. Este é um dos artigos sobre o tema “Ecumenismo”. Leia mais aqui.
Missão e Ecumenismo, onde ser Ecumênico é a Missão e ser Cristão é ser Ecumênico.
O Século XXI cristão optará pelos excluídos ou não será cristão.
O Século XXI cristão ou será ecumênico ou não será eclesial.
O Século XXI ou será ecológico ou simplesmente não será”.
(Dom Pedro Casaldáliga)
Ser missionário não é apenas uma opção para os cristãos e que a gente pode optar por fazer ou não fazer. Não é uma simples tarefa, mas uma exigência central que decorre do batismo e do mandato de Jesus. Também não é algo que se faz durante determinado tempo: uma semana, um mês, um ano que seja, mas é para toda a vida, porque a missão é a vida do cristão. Igualmente ser missionário não é uma tarefa de uma determinada pastoral, ou restrita a um certo lugar, mas um compromisso de toda a Igreja. Nem mesmo é uma obrigação em que se faça apenas por força da Lei. O mandato de Jesus é um envio explícito e sem arrodeios, “Vão, portanto, e façam que todas as nações se tornem discípulas, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mateus 28, 19). A missão, assim como o batismo, é trinitária.
Depois do Concílio Vaticano II, com o evento da Igreja Povo de Deus, somos todos missionários e missionárias em diálogo com o mundo. Ser cristão, assim como ser Igreja, significa ser ecumênico. Enquanto não nos tornamos ecumênicos, portanto, não seremos verdadeiramente missionários e cristãos de verdade. O ecumenismo é a comunhão das Igrejas cristãs se reconhecendo mutuamente como irmãs, filhas do mesmo Pai, em busca do mesmo Reino. Assumindo a missão comum que é expressa por Jesus no plural, pela comunidade de Marcos “Vão pelo mundo, proclamem o Evangelho a toda criatura” (Marcos 16, 15). E esta missão, como se pode notar, é bem mais que cumprir ritos, seguir doutrinas e obedecer às leis. Por vezes, inclusive, é desobedecê-las, é transgredi-las. Ser missionário exige de nós muito mais que ir à missa, que ir à Igreja, pois a missa termina exatamente com um envio para a missão.
A missão para os cristãos e para as cristãs, como seguidores de Cristo, é ecumênica, em primeiro lugar porque, se temos o mesmo Pai, também temos uma única casa comum, dada por este Pai, da qual devemos cuidar. A Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016 nos lembra desta verdade, ao trazer como tema, “Casa Comum, nossa responsabilidade”. Através do profeta Amós, é Deus quem nos diz, no lema da Campanha, qual é o seu desejo. “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca”, (Amós 5, 24). Desta palavra decorrem para nós muitos compromissos, como olhar e ver, por exemplo, como estão os nossos rios? O que brota e o que corre neles? “A casa Comum é o maior presente que Deus nos deu, por isso, precisamos urgentemente pensar em ações, estratégias e novas formas de nos relacionarmos com esse bem” (CFE-2016, nº 165).
O Papa Francisco, além de dar o exemplo, dialogando com todas as religiões e assumindo a missão de cuidar da vida; exigindo os Direitos Humanos, mas também denunciando a negação dos direitos de todas as espécies e formas de vida; sendo testemunha eloquente do desejo de Deus manifestado por Amós. É urgente entendermos que não somos, nem de longe, o todo da vida e da criação, antes, somos apenas uma parte e muito dependente das demais. Mesmo os cristãos e também a humanidade, são apenas partes de um todo muito maior! Conforme nos diz Francisco, “Há uma inteiração entre os ecossistemas e entre os diferentes mundos de referência social e, assim, se demonstra mais uma vez que “o todo é superior à parte”” (LS, nº 141). Precisamos, diante da oportunidade que a CFE-2016 nos traz, encontrar em nossas diferenças a riqueza da sabedoria que nos faz crescer. Afinal, “Diferente não é contrário” (DREHER, 2011, p. 73).
O nosso Arcebispo, Dom José Antonio Peruzzo, por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, deixou uma importante mensagem, na entrevista coletiva. Ao falar da nossa responsabilidade com a Casa Comum, lembrando-nos das ameaças que nos deixam a todos no mesmo perigo, disse-nos ele “A casa comum, nossa responsabilidade, começa no nosso quintal. Precisamos começar a cuidar desta Casa Comum a partir dele, porque o quintal da gente é como o coração da gente, ninguém entra nele, só a gente entra”. Esta é uma lição importante porque se a missão é de todos e de todas, mas ela tem as suas dimensões pessoais. Está na hora de assumirmos com maturidade a mensagem de Jesus de Nazaré, que é universal e a sua misericórdia que é para todos, (João 21, 11). Afinal, como nos diz (DIETRICH, 2013, p. 31), Jesus, “Procurou mostrar de diversas formas que Deus não é um conjunto de leis, Deus não é um conjunto de rituais, Deus não é uma Igreja, Deus não é nem sequer uma religião: Deus é amor”. E é este amor que nos faz ser missionários e missionárias, e é este amor que chama para sermos ecumênicos.
Bibliografia:
– BÍBLIA SAGRADA. Nova Pastoral. São Paulo: Paulus, 2013.
DIETRICH, Luiz José. Violências em nome de Deus – Monoteísmo, Diversidades e Direitos Humanos. São Leopoldo-RS: CEBI, 2013.
– DREHER, Carlos A. A Caminho de Emaús – Leitura bíblica e Educação Popular. São Leopoldo-RS: CEBI, 2011.
– Papa Francisco. Carta Encíclica LAUDATO SI’ – Sobre o cuidado da Casa Comum. Brasília-DF: edições CNBB, 2015.
– CFE-2016. Texto Base da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016. Casa Comum – Nossa Responsabilidade. Brasília-DF: Conselho Nacional de Igrejas Cristãs – CONIC. 2015.
* Por João Santiago. Teólogo, Poeta e Militante.
Coordenador da CFE-2016
COMISSÃO DA DIMENSÃO SOCIAL: [email protected] / (41) 2105-6326. / Coordenadores: Pe. Antônio Fabris, Diácono Gilberto Félis e Diácono Antônio Carlos Bez.