Como é bom cantar ao Senhor com alegria em nossas celebrações, deixar que através de nossos cantos possamos entrar no mistério que está sendo celebrado. De maneira muito particular, neste mês em que celebraremos a Santa Páscoa com certeza nossas expressões devem ser muito bem preparadas para que a liturgia se torne viva e alegre realmente, sem ser apenas um ritualismo.
Continuemos a refletir sobre o nosso canto litúrgico, que deverá nos ajudar a rezar e entrar no mistério de cada liturgia celebrada. Vejamos o que a Igreja nos ensina:
S. Agostinho, ao definir o canto litúrgico como “profissão sonora da fé”, já fala do “canto eclesiástico” como aquele que é apto para cumprir a função litúrgica que dele se espera. Trata-se, portanto, de uma arte essencialmente funcional, trata-se de música ritual.
Foi essa compreensão original que o Concílio Vaticano II veio resgatar, quando ao falar de “Música Sacra” a definiu como parte integrante da liturgia, e acrescentou que será tanto mais sacra quanto mais intimamente estiver ligada à ação litúrgica (SC 112). Assim compreendida, a Música Litúrgica não pode ser tomada apenas como adorno ou acessório facultativo da celebração cristã da fé. Ela não é coisa que se acrescenta à oração, como algo extrínseco, mas muito mais, como algo que brota das profundezas do espírito de quem reza e louva a Deus (Instrução Geral da Liturgia das Horas, 270).
Mais ainda, a Música Litúrgica participa da natureza sacramental ou mistérica de toda a liturgia, da qual sempre foi e sempre será parte essencial e sua expressão mais nobre (SC 113).
A música que se toca e canta nas celebrações é ação musical-ritual da comunidade em oração. É música a serviço do louvor ou do clamor deste povo, ao realizar os seus “Memoriais”. É música a serviço do “encontro” das pessoas humanas entre si e com as Pessoas Divinas. Não uma música qualquer. Não simplesmente uma bela música. Nem apenas piedosa. Mas uma música funcional, com finalidade e exigências bem delimitadas: um rito determinado, com seu significado específico, inserida em um tempo litúrgico próprio, sintonizada com a Palavra de Deus. Nem toda a música religiosa presta-se para o momento ritual. Há uma forte tendência em escolher uma música apenas por ser bela ou ser conhecida pelo povo, mas com um texto deslocado do momento ritual, por isso devemos tomar todo o cuidado nas escolhas dos cantos para o momento certo e na hora certa.
Essa compreensão da natureza funcional, da ritualidade da Música Litúrgica, é que, em cada caso, definirá as escolhas a serem feitas em termos de textos, melodias, ritmos, arranjos, harmonias, estilos de interpretação, etc. Tal funcionalidade ritual da música litúrgica vai, finalmente, exigir de todos os agentes litúrgico-musicais, na realização da sua arte ou do seu ministério, além da competência técnica e artística, uma consciência e uma sensibilidade que só consegue atingir quem participa efetivamente de uma comunidade cristã, só quem tem uma vivência suficientemente profunda da fé, partilhada num ambiente eclesial.
Destaco aqui a importância da preparação e os ensaios para as celebrações. Às vezes toma tempo, mas vale a pena, para que elas sejam mais mistogógicas, vivenciadas a partir das experiências de cada um.
Assim, todos nós somos responsáveis, claro sempre ajudados pelos nossos pastores que têm nos orientado para darmos importância a estes elementos básicos o mistério a ser celebrado. Eles nos acompanham com esmero e cuidado a caminhada litúrgico-musical da nossa Igreja particular, e nos convidam para uma formação adequada para seus agentes.
Os nossos encontros deste ano vão nos ajudar a melhor nos preparar para que possamos vivenciar mais profundamente nossos cantos litúrgicos, adaptando em nossa realidade sem deixar de viver o mistério celebrado.
Nosso primeiro encontro da região episcopal norte será no próximo mês 20 de maio, confira a agenda para equipes de canto e animadores de comunidades. Abraço fraterno
Pe José Airton de Oliveira
Paróquia Martinho de Lima
Comissão litúrgica