Vocação para ser discípulo e missionário de Jesus

Por Luiz Alexandre Solano Rossi – Pós-doutor em Teologia e coordenador da graduação em teologia da PUCPR

O apóstolo Pedro era uma pessoa ligada, como todos nós, a um cotidiano específico. Pode-se dizer que ele tinha um tempo e um lugar. Além disso, ele trabalhava em família tendo ao lado seu irmão André. No entanto, num dia comum como tanto outros e que, talvez ele pensasse, seria a mera reprodução de dias que já havia vivido, algo diferente aconteceu. Aquele dia que tinha tudo para ser comum foi invadido por um evento que transformaria não somente aquele momento específico, mas também e, fundamentalmente, a vida de Pedro.

Tudo começou assim: “Jesus andava à beira do mar da Galiléia, quando viu dois irmãos: Simão, também chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam jogando a rede no mar, pois eram pescadores. Jesus disse para eles: «Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens.» Eles deixaram imediatamente as redes, e seguiram a Jesus” (Mt 4,18-20). A partir desse momento Pedro já não seria mais o mesmo. Iniciava-se seu caminho de discípulo. Na verdade, não podemos dizer que Pedro estava pronto desde o início de seu chamado. Essa experiência de Pedro, por mais maravilhosa que possa ter sido, era tão somente a porta de entrada de um grande projeto que haveria de ser construído. Ser chamado por Jesus é uma coisa e alcançar a maturidade é outra bem diferente.

Mas Pedro vivia o cotidiano não como se fosse escravo dele. Ele era um leitor atento ao que acontecia à sua volta. Percebia que não bastava reproduzir os mesmos gestos e preencher as horas da mesma forma o dia inteiro. Por causa dessa compreensão, rompeu com sua zona de conforto que o reduzia a ser a mesma pessoa a vida toda. E, ao agir dessa forma, seu presente e seu futuro foi atingido e transformado de uma forma irreversível. Bastaram poucas palavras de Jesus para que ele entendesse o momento novo que estava por vir. E Pedro não perdeu a oportunidade: ele se apresentou como uma pessoa de atitude.

Diante das palavras de Jesus ele tomou uma atitude: rompeu com seu cotidiano, não porque necessariamente ele fosse mal, mas porque descobriu que poderia viver com muito mais qualidade, sentido e finalidade de vida. “Imediatamente” Pedro deixou o que fazia e se lançou no maior de todos os projetos que qualquer pessoa poderia viver: ser discípulo de Jesus Cristo. Ele tinha consciência do tempo especial em que estava vivendo e, por conta disso, soube interpretar e comunicar os acontecimentos do dia-a-dia a partir de sua especial vocação. Mas ele não sabia somente comunicar, ele também tinha o que comunicar. Isso significa que suas palavras não caíam no vazio. Eram, na verdade, palavras que ajudavam as outras pessoas a também compreender os fatos importantes que estavam ocorrendo.

Todos sabemos que palavras vazias não ajudam a construir nada e, pior do que isso, confundem as pessoas. Somente consegue comunicar com eficácia aquele que tem conteúdo. Seria possível imaginar a quantidade de discursos esvaziados que temos hoje em todos os setores da sociedade e também nas conversas que mantemos uns com os outros que não nos acrescentam absolutamente nada? Pedro sabia comunicar e tinha o que comunicar. Chamava para si a responsabilidade de ensinar. De fato, ele se apresentava como mestre.

As palavras de Pedro tinham uma força descomunal e atingiam o coração de seus ouvintes. Mas como poderia um simples pescador ser um hábil articulador de palavras e de conteúdo? Poderia dizer que a diferença básica entre ele e nós se apresenta de forma dupla:

1) Ainda que Pedro se reconhecesse como pescador ele se dispunha a falar e a viver sua vocação como discípulo de Jesus, ou seja, assumia o risco de falar enquanto a maioria se aquietava;

2) Pedro tinha consciência do conteúdo existente em suas palavras porque era consciente do conteúdo existente em sua própria vida, isto é, o que ele falava era consequência do que ele vivia. Dessa forma, quando ele se levantava para falar, suas palavras encontravam eco nas pessoas porque ele falava com a autoridade daqueles que viviam o que falavam.

Às vezes me pergunto se Pedro, diante das pessoas que se reuniam ao redor dele para ouvi-lo, não sentia um friozinho na barriga. Talvez pensasse: “quem sou eu para discursar… por que não outro… tantos outros são mais capazes…”. Todavia, com friozinho na barriga ou não, sei que ele se levantava e começava a falar. E isso fazia toda a diferença tanto para ele quanto, principalmente, para todos aqueles que o estavam ouvindo.