Vocação e família

Por Diácono Juares Celso Krum

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1981, em sua 19ª Assembleia Geral, instituiu agosto como o mês vocacional. Desde então, cada domingo deste mês é dedicado à celebração de uma determinada vocação. No primeiro, celebra-se a vocação sacerdotal – dia do padre. No segundo, a vocação familiar – dia dos pais. No terceiro, a vocação religiosa – dia da vida religiosa, e, no quarto, a vocação laical – dia dos ministérios leigos. Quando no mês de agosto há cinco domingos, no quinto celebra-se o dia do catequista.

Sem muitos detalhes, vocação significa chamar. No âmbito eclesial é um chamado, um convite de Jesus para segui-lo. É uma escolha dirigida a cada pessoa, que pode ou não aceitá-la, de acordo com a percepção desse chamado. Isso foi destacado em Aparecida, com relação à vocação sacerdotal ao afirmar que: “Diante da escassez de pessoas que respondam à vocação ao sacerdócio e à vida consagrada na América Latina e no Caribe, é urgente dedicar cuidado especial à promoção vocacional, cultivando os ambientes onde nascem as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada, com a certeza de que Jesus continua chamando discípulos e missionários para estar com Ele e para enviá-los a pregar o Reino de Deus”. (DAp 315)

Quais são os ambientes em que nascem as vocações sacerdotais? O papa Francisco em sua mensagem para o 53º Dia Mundial de Oração pelas Vocações fala que a Igreja “é mãe das vocações pelo contínuo apoio daqueles que consagraram a vida ao serviço dos outros”. Mesmo a Igreja sendo mãe, na verdade, a vocação sacerdotal nasce no seio de uma família.

Apesar de se constatar que o “despertar da vocação sacerdotal” acontece muitas vezes em momentos especiais na vivência eclesial: primeira Eucaristia, Procissões, Retiros, Encontros, Santa Missa ou, muitas vezes pela ocasião da visita de religiosos, é na família que os primeiros lampejos vocacionais surgem, antes mesmo de qualquer fato concreto que indique ou confirme o desejo de ser Padre.

Mais uma vez o Documento de Aparecida confirma a importância da família ao dizer que: “além disso, é dever dos pais, especialmente através de seu exemplo de vida, a educação dos filhos para o amor como dom de si mesmos e a ajuda que eles prestam para descobrir sua vocação de serviço, seja na vida leiga como na vida consagrada” (DAp 303). Se a família têm essa vivência de fé e um bom testemunho cristão, se é Igreja doméstica, dá para pensar numa fala de São João Bosco, educador da juventude, que disse que 75% dos jovens cristãos educados na fé, têm uma vocação sacerdotal, mesmo que não cheguem todos a ordenar-se.

Outro dado Interessante é que, de uma forma geral, é das famílias numerosas – e no meio rural – que surgem mais vocações sacerdotais e religiosas, pelo menos é o que se verificava até os anos 1970, sem que isso seja algo exclusivo. O que chama a atenção é o processo do chamado de Deus, pois há vocacionados que vieram de famílias não numerosas e até de famílias desestruturadas. Famílias com pais separados (feridas) também deram à Igreja Padres, e Bispos e alguns Cardeais.

Os tempos, momentos e critérios do chamado de Deus para que o Reino aconteça são permeados de mistério que nos levam à reflexão. Basta lembrar do chamado dos Doze. Entre eles havia pescadores, um publicano e um zelota, ou seja, pessoas com origem e mentalidades distintas. Consideremos também o chamado do apóstolo Paulo, perseguidor implacável da Igreja, que invadia as casas dos cristãos e os lançava na prisão e que assistiu com satisfação à horrível execução de Estêvão (At 8,1; cf. 22,20).

A diferença está na conversão, a partir da aceitação na resposta ao chamado. Novas atitudes, nova vida, voltada ao bem do próximo, na vivência plena de sua vocação.

Que as famílias tenham como prioridade a transmissão da fé aos filhos, para que existam e aumentem as vocações ao sacerdócio ministerial. Sabemos que ainda há famílias cristãs que têm esta preocupação, elas existem, e têm frutos.