Taizé: um encontro de oração e música

Diria que Taizé, além de oração e música, é um encontro de corações, onde cabem todos aqueles que buscam viver o Amor ao Criador e ao próximo, independente de bandeira, língua, raça, cor, sexo ou religião. Um momento que mistura música instrumental, canto, oração, partilha de dons e doação pessoal.

Durante a Segunda Guerra, muitos jovens desejavam o silêncio e encontro com Deus. Tendo em vista esse período difícil, e no intuito de acolher e proporcionar essa busca, o irmão Roger (in memorian), pastor suíço, fundou em Borgonha (França) a Comunidade Ecumênica de Taizé. Uma comunidade Cristã de rotina simples, que acolhe todas as igrejas, religiosos e suas tradições. O principal objetivo do Taizé é levar seus participantes à paz interior, que se adquire somente com Cristo. As orações são tocadas, cantadas e silenciosas. Sim, considero o silêncio a mais bela melodia; é a parte mais sublime desse momento, é onde a Melodia Divina ressoa em cada coração em resposta aos cantos comunitários de perdão, petição, súplicas, louvores, adoração. A alternância de sons e silêncio é o que promove esse encontro e a paz tão desejados.

A escrita musical, esboçada numa partitura, apresenta diferentes figuras musicais conhecidas como mínimas, semínimas, colcheias, semibreves e por aí vai. Isso mostra que é possível e necessário unir o diferente para que tudo ressoe com mais harmonia. A junção do diferente, respeitando cada figura, seu tempo e obviamente as suas pausas musicais, é o que mais encanta. Assim é Taizé, que vai muito além de cantar e tocar, são orações que tocam o coração. Uma repetição de frases de louvor, súplicas ou de invocação ao Santo Espírito de Deus. Alguns nomeiam esse momento como um mantra, uma repetição que vai penetrando o coração e a mente. Prefiro dizer que são antífonas, versículos que os católicos geralmente, em um só coro, expressam nos salmos ou cânticos religiosos na Liturgia. Independente de ser um mantra ou antífona, o que importa é o desejo de repetir os louvores e súplicas a Deus, de sentir e viver esse amor.

Geralmente as antífonas são rezadas num ambiente com imagens bizantinas, (uma delas é a Virgem Maria e uma cruz). Há momentos em que as luzes são apagadas e os participantes utilizam velas, proporcionando assim um espaço de paz, onde se reza a Vida de Cristo, utilizando de simbologias para melhor aprofundar a Palavra de Deus. A meditação de Taizé ajuda a preparar os corações para o Natal, a Páscoa de Cristo, Pentecostes e muitos outros momentos. Une corações através de uma linguagem mundialmente conhecida, a música. Todos se comunicam com seus instrumentos e vozes, levantam louvores, meditam a vida de Cristo através dos cânticos e do silêncio, no qual, Deus se revela.

Assim me sinto quando toco minha flauta. O som do meu instrumento se mistura com os demais, criando floreios e bases para que as vozes se assentem e todos descansem na paz promovida pela linda oração, meditação e cânticos de Taizé.

Em 2017, apareceu uma iniciativa ecumênica em Curitiba chamada Encontro de Oração e Música, com o intuito de cultivar o uso deste repertório com a Igreja reunida na sua pluralidade. Assim, a partir dessa data, cada ano foi sendo realizado um destes encontros dentro da mística de Taizé. Mas isto foi interrompido pela pandemia que surpreendeu a todos em 2020.

Durante tempos difíceis decorrentes da COVID, os amantes de Taizé se viram privados de manifestar suas orações de forma comunitária e presencial. Tendo em vista a gravidade da época e respeitando todos os cuidados para que tudo logo passasse, o maestro José Luis Manrique não deixou que os corações desejosos de partilha e oração ficassem solitários. Aproveitou da tecnologia para reunir em oração as pessoas, mesmo longes fisicamente. Cada um gravava em sua casa um trecho, arranjos ou bases preparadas pelo maestro e depois eram enviadas para a junção das partes, formando assim, um só canto e coro. A sensação de paz retomou e invadiu muitos corações que sofriam a ausência, a distância e as dificuldades causadas pela pandemia. No auge da quarentena mundial, estava vivendo um período sabático e fiquei confinada na Bélgica. Tivemos a graça de avançar fronteiras. O maestro enviou a minha parte do arranjo “Louvarei a Deus” de Jacques Berthier que dividi com a madre Hannah, monja beneditina do Mosteiro de Notre-Dame de Bethanie, em Loppem-Bruges, em Flandres. Uma experiência acolhida generosamente pela madre, pela orquestra Arquidiocesana Luz dos Pinhais, pelo Coral do Santuário Santa Rita de Cássia e Coral Santo Inácio – CVX Regional Sul no ano de 2020.

Meu primeiro contato e paixão pelos cânticos de Taizé aconteceu na Paróquia Imaculado Coração de Maria, no bairro Rebouças. O padre Eguione que abriu as portas da Paróquia a todos que amam essa forma de louvar e viver Deus. Promoveu cursos para músicos com profissionais musicistas e musicoterapeuta e por último, no dia vinte de agosto deste ano, o Movimento Ecumênico de Curitiba (MOVEC), promoveu o IV Encontro de Oração e Música, coordenado, nessa edição, pelo Padre Eguione Nogueira CMF (ICAR), Josiane Peixoto (ICAR), José Luis Manrique (ICAR), Lislie Moraes de Carvalho (IECLB), Pastor Nilton Giese (IECLB) e Sívia Maria Trivisan Picheth (ICAR). O roteiro foi elaborado pelo Pr Nilton. Os cânticos de Taizé, a recitação da Palavra de Deus, o silêncio, as preces e o louvor compuseram esse encontro de corações e de almas com o que é mais Sagrado. Longe de uniformizar, mas dentro de uma equidade, somando os diferentes dons e buscando viver somente a igualdade de Filhos (as) de Deus. Sendo assim, a Meditação de Taizé, convida a todos os fiéis a rezarem em um só coração e uma só alma, colocando em comum os dons concedidos por Deus, como os primeiros cristãos (At 4,32).

Sobre esta quarta edição dos Encontros de Oração e Música, o Maestro José Luis Manrique comenta: “Todos estávamos com muita saudade dos encontros ecumênicos e de juntos cantarmos ao Pai, em Cristo e pela graça do Espírito. A nossa fé nos une em diversos aspectos da vida cotidiana e eclesial, precisamos promover mais espaços de interação, convívio fraterno e diaconia”.

O planejamento da próxima edição para 2023 já começou deve incluir uma pequena turnê do grupo musical ecumênico pela região norte do Paraná, onde encontram-se comunidades do Sínodo Paranapanema da IECLB. Sobre isto a Maestrina Lislie comenta “Após esse período de privação diante da pandemia, causada pelo COVID-19, estamos sedentos de viver em comunidade; e essa vivência inclui nossos irmãos de outras localidades. Quando vivemos experiências que nos animam e nos fortalecem espiritualmente, vem o desejo de compartilhá-la, assim surgiu o desejo de ‘IR’ ao encontro”

Estejamos atentos para poder participar da quinta edição do Encontro de Oração e Música, que acontecerá em Curitiba no sábado 27 de maio do próximo ano, como parte da programação da Semana de Oração pela Unidade Cristã 2023, organizado pelo Movimento Ecumênico de Curitiba (MOVEC).

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Por: Jusiana Lustoza

Rede de Música do Conselho de Leigos da Arquidiocese de Curitiba

Comissão Arquidiocesana de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso