Um dos grandes dons do cinema é produzir histórias que marcam gerações de pessoas. Filmes clássicos que acompanhamos por décadas e décadas e continuam nos surpreendendo por suas inovações no modo de contar a história ou pela própria história em si. Hoje gostaria de usar em nossas reflexões um grande clássico de aventura e comédia lançado em 1985: De Volta Para o Futuro.
O protagonista dessa história é Marty McFly, um jovem que acaba viajando no tempo e voltando para 1955, 30 anos atrás, exatamente no dia que seus pais se apaixonaram. Ele consegue viajar para o passado porque o cientista Emmet Brown modificou um DeLorean e o transformou numa máquina do tempo. Sem querer, enquanto testavam a máquina, McFly acaba retornando ao passado e agora precisa da ajuda do jovem Dr. Brown para retornar para o ano de 1985. O grande problema da história é que os pais de Marty, Lorraine e George, haviam se apaixonado depois de um acidente de carro. Agora Marty retorna ao passado e acaba impedindo esse acidente de acontecer, o que leva Lorraine se apaixonar por Marty e não pelo seu pai. Com isso, corre-se um grande risco de seus pais não ficarem juntos e do próprio Marty nunca nascer.
Correndo contra o tempo, Marty McFly precisa contar com a ajuda do Dr. Brown para retornar de volta para o futuro, mas antes disso precisa fazer seus pais se apaixonarem e se beijarem no baile de formatura do ensino médio. Tudo isso por causa de um pequeno acidente do passado que acabou não acontecendo. Isso nos leva a pensar também em nossa vida, em quantos momentos gostaríamos de ter vivido ou feito algo diferente e o quando isso mudaria o nosso presente. Quantas vezes vemos alguma questão e ficamos refletindo, sobre “e se eu tivesse feito diferente? E se isso não tivesse acontecido?” Com muita aventura e muito bom humor, De Volta Para o Futuro pode nos levar a refletir sobre isso.
Estamos agora vivendo na nossa igreja o Tempo Pascal, os cinquenta dias que Jesus Ressuscitado esteve com os discípulos antes de subir aos céus. Enquanto vivemos esse tempo com Jesus vitoriosos, também acompanhamos na liturgia os primeiros passos da igreja nascente. Acompanhando a leitura dos Atos dos Apóstolos, vemos como o Espírito Santo guiou aqueles mesmos Apóstolos que fugiram ou negaram a cruz por medo, para agora darem testemunho da verdade que viveram, tendo coragem de entregar a própria vida por essa verdade. O que antes era medo humano, agora é força divina para enfrentar a perseguição e as condenações. Mas se essa história também tivesse sido diferente? Se a menagem de Jesus tivesse sido acolhida por todos, e tivesse sido aceita por aqueles que perseguiam e matavam os cristãos?
No filme que estamos refletindo, Marty McFly evita um acidente e isso causa um grande tumulto na sua história, porque a sua história foi assim, não podia acontecer de outro jeito. Da mesma forma a nossa história cristã: desde quando Jesus assumiu nossa natureza humana ele foi desprezado pelos seus. Nós, cristãos, vivemos desde o início de nossa igreja, a mesma história de Jesus. Somos cristãos porque continuamos a história de Cristo, perseguido, desprezado e assassinado. Mas essa é uma história de vitória. Apesar de tudo isso, Jesus venceu o pecado e venceu a morte e a história dessa vitória continua em nossa história.
O Ato dos Apóstolos nos conta que quando começou a perseguição aos cristãos, com a morte de Estêvão e a caça aos que seguiam Jesus Cristo, muitos de nossos irmãos fugiram para outras regiões, mas levaram consigo a Palavra de Deus. E mesmo com medo, a força evangelizadora era maior. Deus sempre pode tirar um bem mesmo de algo muito mal. Por causa da perseguição, nossa igreja começou a se espalhar, chegando até os confins do mundo, conforme o Senhor prometera. Não podia ser uma história diferente, não podia ser de outro jeito. É a nossa história. Mesmo com medo, mesmo nas dificuldades, mesmo que sejamos perseguidos, o Senhor continua ao nosso lado fazendo acontecer a nossa história de vitória, até chegarmos na Vida Eterna, na plena alegria na casa do Pai. Confiemos nesse Deus que jamais despreza nossas dores e jamais nos abandona, mas nas nossas batalhas do dia-a-dia, é Ele que constrói nossa história.
De Volta Para o Futuro
Robert Zemeckis, 1985
Ficção Científica/Comédia
Disponível em: Amazon Prime Video, Star+ e Telecine
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Texto escrito pelo padre Tiago Felipe Polonha da Arquidiocese de Curitiba