Pe. José Airton de Oliveira
Não é possível identificar com exatidão quando e onde teve início o costume de celebrar o Advento. Sabe-se que, em várias regiões, entre os séculos IV e VII, já se celebrava o Advento como preparação para o Natal. Em certas regiões, como na Espanha e na antiga França, desde o início esse tempo era marcado pela prática do jejum e da abstinência de carne. Em Roma, pelo fim do século VII, o Advento começa a ser identificado com a preparação para a segunda vinda de Cristo. Com a reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, o Advento passou a ser celebrado nos seus dois aspectos: a vinda definitiva do Senhor e a preparação para o Natal, mantendo a tradição das quatro semanas.
São Bernardo de Claraval, nos seus sermões, nos ensina que existe também a vinda intermediária de Cristo, ou seja, a vinda do Senhor no cotidiano de nossa história, no dia a dia, na vida de cada um e na liturgia celebrada. Creio muito nesta vinda presente em cada um nós: Veio, Virá e Vem no hoje de nossa vida!
Podemos falar da preparação próxima ao Natal e da preparação remota. Dois grandes momentos do Advento nos aproximam desta grande festividade que é o nascimento do nosso Salvador. A preparação próxima se concentra no Advento. É tempo de fortes apelos para acolher a vida, promovê-la e defendê-la: a liturgia dos quatro domingos do Advento, os cantos próprios desse tempo, as novenas de Natal e os mutirões para um natal sem fome. As diversas campanhas de solidariedade e partilha são algumas formas de preparação próxima para essa solenidade. O fato de pensarmos nos outros, de presentearmos as pessoas e de nos reunirmos em família para celebrar a vida nos une ainda mais tanto na vida como na liturgia.
A celebração remota acontece ao longo do ano, quando a liturgia nos educa e prepara para essa grande solenidade, seguindo os passos da Mãe de Jesus, que durante nove meses se preparou para a chegada de seu filho. A anunciação do Senhor, visitação a sua prima Isabel, nascimento de São João Batista, a Imaculada conceição: tudo isso leva a crer que ela passou por momentos fortes em sua vida, assumindo também todos os sofrimentos e dores. Agora é tempo de celebrar a vida como dom de Deus.
Outro aspecto deste tempo são as cores: cada cor litúrgica tem seu significado. Entrando na Igreja no primeiro domingo do Advento, você vai notar a presença da cor roxa, que não é sinal de tristeza, mas de esperança de que o Senhor está para chegar, segundo o grande convite de João Batista, que anunciava “Preparem o caminho do Senhor, endireitem suas estradas. Todo vale será aterrado, toda montanha e colina serão aplainadas; as estradas curvas ficarão retas e os caminhos esburacados serão nivelados. E todo homem verá a Salvação de Deus.” (Lc3,4b-6).
No terceiro domingo do Advento, pode-se usar a cor rosa, e seu significado é alegria. A alegria porque o Senhor está por perto e vem nos trazer a verdadeira Salvação. Luz que vem nos iluminar.
A coroa do Advento se tornou comum em nossa cultura e ajuda na preparação ao Natal. Ela teve origem na Alemanha entre as famílias protestantes. Porém, a coroa não nasceu de tradições cristãs, pois os protestantes adaptaram de costumes pagãos. Na Alemanha, é inverno no Natal, e as horas de Sol são poucas e as noites longas. Sendo inverno, tem-se a impressão de que a natureza morre. Por isso, acendiam-se velas enfeitadas de ramos de pinho, que se mantêm verdes também no inverno.
Esperava-se, à luz das velas, a chegada da primavera, quando a natureza renasce. Enfeitavam a coroa com fitas vermelhas. Os cristãos “batizaram” esse costume. Para eles, a quarta vela deveria ser rosa para expressar alegria. Na noite de Natal, uma vela branca, símbolo de Cristo, era acesa e colocada no centro. Como se vê, a coroa do Advento nasceu nas casas em família, quando ainda não havia luz elétrica. É interessante resgatar a coroa como algo a ser cultivado em família. Nas igrejas, ela tem basicamente quatro velas enfeitadas, simbolizando que não tem começo nem fim. A cada domingo, se acende uma vela, de forma crescente, assim como nós vamos caminhando ao encontro de Jesus, que vem nos salvar.
A liturgia do Natal é cheia de alegria e festa, pois Jesus nosso Salvador veio nos visitar. Por isso, devemos celebrar muito bem com nossa família e amigos e não deixar que essa solenidade passe despercebida, nos preocupando apenas com as coisas materiais. Depois que fizemos com nossa comunidade e grupos de famílias as novenas de Natal, chega o grande momento de viver com dignidade essa espiritualidade do Natal.
Neste ano, temos um fato curioso: não teremos praticamente a quarta semana do advento, pois celebraremos, no dia 24 de dezembro pela manhã, o quarto domingo do advento, e na noite do dia 24 já começaremos a celebrar o Natal com a Santa Missa vespertina. Por isso, precisamos ter atenção para preparar bem esses momentos fortes da liturgia, pois irão passar muito rápido.
Que possamos verdadeiramente nos preparar e celebrar bem o Natal do Senhor com nossas famílias e nossas comunidades.
Desejo um feliz e Santo Natal a todos.
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