No final da tarde de ontem, por volta das 18h20, o cotidiano da PUCPR foi abruptamente interrompido. Já lecionando em sala, ouvimos o alarme de incêndio soar. Em poucos minutos, circulava a notícia: o Teatro TUCA no Bloco Azul ardia em chamas. O campus inteiro foi mobilizado. A urgência tomou o lugar das palavras e, com ela, o cuidado.
Do lado de fora, os olhares buscavam respostas enquanto a fumaça subia. Não houve pânico, apenas rostos — conhecidos e desconhecidos — unidos por um mesmo sentimento: incredulidade.
Vi mãos entrelaçadas e olhos marejados. Vi, sobretudo, uma comunidade. Sabíamos que não era apenas um prédio em chamas. O TUCA carregava décadas de memórias e significados. Ali, arte e espiritualidade se encontravam. Seu palco deu forma à imaginação, à crítica, ao encantamento. Era um espaço onde o invisível ganhava corpo e a experiência humana se tornava partilha.
E, naquele instante de suspensão, outra convicção emergia: a de que a PUCPR não se define por suas estruturas físicas, mas pelas raízes profundas que a sustentam — Scientia, Vita et Fides, conforme consta em nosso brasão.
A Ciência, que forma e transforma, não se restringe às paredes de um espaço físico; ela é espírito investigativo, é desejo de sentido, é coragem de recomeçar.
A Vida, celebrada em cada encontro, foi protegida. Ela resiste e se reinventa mesmo entre os escombros.
A Fé, silenciosa, permanece como semente que brota na dor, consolo que acolhe e esperança que conduz. Ela não se dobra às perdas materiais, pois sabe que tudo o que é fecundado com a Verdade encontra um modo de ressurgir.
Na manhã de hoje, permanece o sentimento de comunhão, pertencimento e memória. O Bloco Azul que abriga o TUCA foi mais do que o arcabouço de nosso teatro e de nossa Escola de Belas Artes: foi corpo simbólico para gerações de estudantes, funcionários, professores e profissionais como eu — ali formados.
Todos que fazemos parte desse corpo simbólico, atravessados pela incredulidade das chamas, amanhecemos tristes, mas revigorados pelo sentido: o que o fogo destruiu não desapareceu, apenas se transformará.
Manteremos firme nossa vocação de ensino, que se renova a cada manhã e que pulsa nos corredores; nossa missão, nenhuma fumaça é capaz de ofuscar. A PUCPR não é feita de concreto e blocos. É feita de gente. Gente Boa que amanheceu diferente, mas não enfraquecida.
Nada será como antes — mas tudo continuará em pé, pois mesmo conscientes de que somos feitos de matéria, nosso Amor por esta instituição nos renasce e em esperança resiste.
É preparação para a Páscoa. Que toda nossa comunidade acadêmica possa celebrar a Vida, o Renascimento, com fé e esperança.
Na esperança Cristã, ressignificamos a dor em coragem!
Prof. Ana Beatriz Dias Pinto
Departamento de Teologia
Escola de Educação e Humanidades