Amou-nos.
Pe. Renato Vieira, SAC
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No centro do Evangelho existe um Deus que é amor encarnado. Temos a tendência de pensar que o Evangelho seria apenas um texto bíblico, ou uma parte importante do Novo Testamento que nos fala da vida de Nosso Senhor, mas na verdade, se trata da pessoa mesma de Jesus, Verbo ou Palavra viva e eterna de Deus! Não somos a religião do livro, mas da Palavra de Deus e Jesus é o amor em pessoa. No seu peito bate um coração que abriga as alegrias e tristezas da inteira humanidade.
É desse coração ferido, mas fiel e que ama até o fim, que vem nos falar o Papa Francisco em sua quarta encíclica. Uma encíclica é uma carta circular que o papa envia para todos os católicos e pessoas de boa vontade do mundo inteiro.
É isto mesmo. O papa está mandando uma carta para você, para mim, para todos nós. É preciso que a leiamos com atenção, carinho e respeito filial pelo Santo Padre, pois sua missão é nos confirmar na fé em Jesus de Nazaré no seio da Igreja uma, santa, católica e apostólica.
Depois de uma pequena introdução, o documento se divide em cinco capítulos. O tema central é o culto ao Sagrado Coração de Jesus.
No primeiro capítulo o Papa nos diz que precisamos voltar ao coração. Vivemos num mundo líquido e apressado. Há muita superficialidade no que se diz e no que se faz. Corremos o risco de nos tornarmos meros consumistas insaciáveis, pois o mercado, apesar de criar desejos e falsas necessidades, não pode dar conta da vida com seus anseios mais profundos, pois ela é sempre dom precioso de Deus que dinheiro algum do mundo pode comprar. Falar do coração é falar, portanto, daquelas questões que nos impelem: Quem sou eu? Qual minha missão nesse mundo? Qual o sentido da minha vida?
Assim como eu sou o meu coração é a partir do coração de Jesus que compreendemos mais profundamente quem Ele é e podemos responder a pergunta que Ele nos faz: E vós, quem dizeis que eu sou?
Os Santos como Inácio e Newman e muitos outros compreenderam que só há seguimento verdadeiro quando se fala com o Senhor de coração para coração.
No segundo capítulo, aprendemos dentre tantas outras coisas, que Jesus mais do que falar de amor, pratica o amor para que entendamos essa realidade mais vivencialmente do que verbalmente. De fato, Jesus é proximidade, compaixão e ternura. Ele toca, olha, abraça, chora, sofre e se doa com amor, por amor e no amor.
No terceiro capítulo, o Papa faz um resgate da história da devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Recorda Pio XII que em 1956 lançou uma encíclica sobre o tema. É importante frisar que o culto ao Sagrado Coração não é o culto a um órgão separado do corpo do Senhor, mas a adoração de Jesus encarnado. Esse Deus que se fez homem nos ama com caridade divina e afeto humano. Em Jesus, Deus de Deus e luz da luz, estamos diante de um mistério paradoxal: no coração finito de Jesus (verdadeiro homem) está presente o amor infinito do Cristo (verdadeiro Deus).
Francisco nos ensina que o culto ao coração de Jesus não se deve a revelações privadas. Já está presente na Bíblia, na Tradição e no Magistério da Igreja. Tais revelações tem seu valor enquanto estímulo para que se faça o bem e se viva o Evangelho, mas diferente da Palavra de Deus, tais revelações não são dogmas de fé podendo-se ou não, nelas acreditar. O mais importante é que diante do coração de Jesus, como já afirmava Pio XII, estamos diante de um compêndio do Evangelho.
Segundo o Santo Padre, a devoção ao Sagrado Coração nos ajuda a superar uma espiritualidade desencarnada. De fato, não são poucos os devocionismos que querem substituir a fé no Cristo, que sempre é seguimento, por meros ritualismos que beiram mais à superstição do que a uma saudável devoção. Uma espiritualidade sem coração leva a reformas meramente exteriores onde se dá uma ênfase exagerada na organização e nos projetos que, sem qualquer espírito sinodal, são impostos e jamais dialogados.
Assim, vemos que o sínodo sobre a sinodalidade e as reformas em andamento na Igreja não se apresentam como algo superficial e provisório, mas sim como um esforço de se partir do coração para que, de fato, a Igreja seja realmente portadora da Lumen Gentium (luz das nações que é o Cristo).
No quarto capítulo o Papa vai reler as Escrituras e o Magistério da Igreja a fim de que possamos nos alimentar espiritualmente e nos comprometer eclesialmente com a missão. Ele vai recordar textos bíblicos e dos padres da Igreja com seus comentário sobre o lado aberto de Jesus. Alguns santos, devotos do Sagrado Coração são recordados neste momento: São Francisco de Sales, Santa Margarida Maria Alacoque, Santa Teresa de Lisieux, Santo Inácio de Loyola e Santa Faustina Kowalska.
No quinto capítulo o Papa Francisco nos recorda que a devoção ao Sagrado Coração tem uma dimensão comunitária, social e missionária. De fato, o coração que ama o Pai, ama também os irmãos. Aqui vemos a recordação de outro santo muito querido que moldou sua vida segundo o coração de Cristo e, por isso, se tornou irmão universal: São Charles de Foucauld. Destaco também o ensino do Papa sobre a reparação que se costuma fazer ao Coração de Jesus na esteira dos ensinamentos de João Paulo II: não é algo feito apenas de palavras, mas também do trabalho de cada dia em prol da construção de uma civilização do amor, capaz de superar o ódio e a violência que existe no mundo.
Finalmente, o Papa ensina que consagrar-se ao Coração de Jesus é engajar-se na ação missionária da Igreja, pois este coração que a todos ama, quer ser conhecido e amado. É através da saudável devoção ao Coração de Jesus que a Igreja se torna Corpo de Cristo, a sociedade se edifica na justiça e a paz e a fraternidade pode reinar entre as nações. A missão não é feita apenas do anúncio doutrinal, mas também do encontro feliz com o amor de Cristo que nos faz missionários apaixonados do seu Sagrado Coração.
Lembre-se de que uma resumo é apenas uma visão panorâmica que tem sua beleza, mas é incapaz de captar as nuances e os detalhes. Conhecer a floresta por cima, não é a mesma coisa do que a conhecer por dentro, através de uma boa caminhada feita de modo paciente e atencioso a fim de se contemplar a diversidade de árvores, flores, folhas e frutos… Com esse pequeno texto, quero apenas convidá-lo a ir além. Agora é a sua vez de ler o texto integral, elaborar a sua síntese e fazer as aplicações convenientes à sua vida e à sua missão.