Prepare-se para o Tempo do Advento e do Natal

Estamos nos aproximando do final do ano e consequentemente dos tempos fortes do Advento e do Natal. Para nos ajudar a refletir, especialmente para os que se ocupam da animação musical de nossas comunidades, o maestro Delphim Rezende Porto, diretor de música da Catedral da Sé de São Paulo – Arquidiocese de São Paulo – nos ajuda, através de 5 dicas, a como vivenciar melhor esses períodos.

Natal de Jesus ou do Papai Noel?

“Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel” ou “Então é Natal / o que você fez / […] hare rama a quem ama” são a trilha sonora do ‘Natal’ pagão que o comércio criou. Já somos inundados por esse “clima natalino sem Jesus” suficientemente fora da igreja; dentro do templo, deveríamos garantir aos fiéis uma experiência completamente diferente daquela extramuros – em conteúdo e, sobretudo, em estilo. Que tal este ano trocarmos esses famigerados jingles da cena pop pelos textos e músicas da nossa tradição verdadeiramente cristã? Que deste ano em diante, a Pastoral da Música, sem gorro de Papai Noel, não se comporte como a banda que anima um programa de auditório, mas assuma sua responsabilidade ministerial perante a comunidade.

Parabéns pra Jesus?

No dia 25 de dezembro, nós cristãos, não celebramos o aniversário de Jesus, mas sua Encarnação. O Filho de Deus já existia, existe e existirá a despeito de sua salvífica vinda sob a forma humana. Este mistério é grande: é a nossa fé! Vejamos o que os textos bíblicos das liturgias do Advento e do Natal nos apresentarão e deles derivemos nossos cânticos. Não por acaso começamos o Advento cantando “Senhor, vem salvar teu povo” do Pe. José Weber; e no terceiro domingo proclamamos à Entrada da Missa “Alegrai-vos, Ele está bem perto” do Pe. Gelineau e, finalmente, entoamos “Hoje nasceu para nós o Salvador, que é Cristo, o Senhor” no Salmo Responsorial da Missa da Noite de Natal. Há um itinerário litúrgico – que pode e deve ser reforçado pela Pastoral da Música – que é profundo e evangelizador. Deixemos o entretenimento barato e superficial de fora do nosso repertório e conformemos nossa música cada vez mais ao que a Igreja nos pede.

Ano novo, vida nova

A pandemia nos pôs em xeque e confrontou nossas vidas em todas as dimensões possíveis. Mudamos até mesmo o jeito de nos saudarmos: abraço da paz virou cumprimento à distância e com muito álcool em gel. De fato, com a chegada de um novo Ciclo Litúrgico com o Advento, temos a oportunidade de nos conformarmos ainda mais ao Cristo e revisarmos nossas vidas segundo a Sua luz. Que tal aproveitarmos esta hora para mudarmos, para melhor, também as nossas práticas musicais e elegermos não mais o parâmetro do entretenimento, mas a tradição da Igreja para avalizar o nosso exercício artístico no templo? Ao invés de copiarmos os conjuntos da TV e do Youtube, passemos a ajudar a Assembleia a cantar como “Povo de Reis” e não como meros consumidores de produtos musicais gospel em um auditório.

Cantar a missa e não na missa

É muito sutil a diferença que nos apresenta a frase acima. Talvez a mesma sutileza esteja naquela contraposição que existe entre ‘ouvir’ e ‘escutar’. Em um deles existe passividade e certo descaso, e no outro, atenção e protagonismo. Podemos cantar à entrada da missa ou a Entrada da Missa. Certamente, melhor será fazer a segunda opção, onde mais que preenchermos de um som animado o início da celebração, recitaremos a Palavra de Deus como música. No primeiro Domingo do Advento, ou seja, no verdadeiro começo do Ano Litúrgico, a Igreja nos coloca como Antífona da Entrada o Sl 24 “Senhor meu Deus, a vós elevo a minha alma”. Como é bela a tradição que nos impulsiona para o Senhor! Como é bom consagramos o ano eclesiástico que começa à oração! Mas, como poderemos fazê-lo sem a ajuda da Pastoral da Música? Enquanto os nossos artistas se ocuparem apenas em aprender as canções da moda, dificilmente as nossas Assembleias usufruirão destes textos litúrgicos. Mais que serem proficientes na arte, o que se espera de instrumentistas e cantores no âmbito da Igreja é que sirvam à Liturgia – e não que se sirvam a si mesmos ou a interesses do mercado gospel que trata nossos fiéis como clientes em potencial.

Cantos genéricos ou próprios?

“Tudo tem o seu lugar” diziam os antigos. A roupa certa para a correta ocasião e a música justa para o momento adequado são o que Descartes, o filósofo, formulava como o ‘senso comum’. Ele mesmo, no entanto, incita o leitor do “Discurso do Método” (1637) a rir quando constata que o ‘bom senso’ seria a dádiva mais bem distribuída por Deus no mundo, pois ninguém admitiria facilmente possuir um ‘senso ruim’. Quantas vezes ouvimos Canto Gregoriano em um barzinho? E, quantas vezes desfrutamos de música “de barzinho” em nossas igrejas? Em quantas ocasiões ficamos constrangidos ouvindo longamente o canto do Salmo Responsorial de modo sensual, com melismas e ritmos completamente indecorosos ao altar? O primeiro nível do canto próprio da oração é que ele é diferente da música profana. E não só no seu texto, mas na sua estrutura musical, no seu “DNA”. Bastaria parodiar uma canção com o nome do Senhor para torná-la apta ao serviço litúrgico? Uma vez encontrado o estilo de canto, é preciso combiná-lo ao que a música servirá à liturgia. Logo se descobrirá que não existe música fora do ordinário da missa que sirva para todos os 52 domingos do ano. Cabe à Pastoral da Música providenciar a trilha sonora perfeita para cada Tempo. E será estudando, não os trejeitos dos cantores da moda, mas a Arte e a Liturgia que o conseguirão fazer.

Proposta de aprofundamento

Para quem quiser se aprofundar mais neste assunto, a São Paulo Schola Cantorum, fundada pelo Maestro Delphim, em parceria com PUC-SP está oferecendo o Curso Online de Extensão “Música Litúrgica – Advento e Natal: Um coro em toda comunidade”. O curso acontecerá nas seguintes datas: 17 e 18 de novembro, quinta e sexta-feira, das 20h às 22h, e dia 19, sábado, das 14h às 16h.

Pra mais informações, programação completa e inscrições, acesse o site

http://liturgiacatolica.com.br/cursos

 

Veja também: Live com o Diácono Cleverson esclarece dúvidas sobre liturgia e comunicação no tempo do Advento.


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Por

Padre Pedro André, SDB – Vatican News