Padre João Marcos Polak: Confiar para ressuscitar

Será que verdadeiramente eu acredito em Deus? Acredito a ponto de confiar minha vida e minhas preocupações, medos, temores e frustrações a Ele?
Vivemos em um mundo onde confiar está cada vez mais difícil. Diante do quadro político, por exemplo, temos dificuldade para confiar nas autoridades. Algo semelhante acontece com as amizades: pode ter acontecido uma desilusão com um amigo, uma frustração que bloqueou você às novas e verdadeiras amizades, ou alguma situação com um profissional da saúde, um vendedor, um contato dentro da Igreja, enfim, temos muitos motivos para desconfiar. Também a realidade da violência e da dependência quí-
mica que tem afetado tanta gente faz com que vivamos com medo e com uma certa desconfiança de tudo e de todos. Sabemos que não podemos parar nessas realidades: podemos e devemos dar uma nova chance para alguém que tenha errado conosco ou nos desiludido. É possível fazer novos amigos e acreditar novamente nas pessoas. Tudo depende de como vamos encarar as situações da nossa vida. Essa desconfiança poderá levar à falta de fé, pois uma pessoa machucada e ferida na sua história pode se desiludir com Deus. Ele, que deveria ser o mais próximo, o amigo verdadeiro, o companheiro fiel que pode nos segurar pela mão para seguirmos em frente, torna-se um estranho distante. Vive-se algo como “Deus no céu e eu aqui na terra”. Não existe contato, relacionamento, amizade, intimidade. Quem passa por isso talvez até reze e cumpra os “preceitos”, mas tende a passar seus dias sem vida, sem a verdadeira fé que transforma, impulsiona e faz viver.

Somos chamados a renovar nossa fé e retomar nossa confiança.
Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é um só. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com toda a tua força! E o segundo mandamento é: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”! Não existe outro mandamento maior do que estes. (Mc 12,29-31). Deus nos deu duas opções: amá-lo ou rejeitá-lo. Quando optamos por amar o Senhor, assumimos Deus como centro da nossa vida e aceitamos que não estamos sós, que podemos e devemos contar com essa presença de amor e misericórdia. Mas toda escolha traz consequências, para o bem ou para o mal; por isso, precisamos nos tornar responsáveis por aquilo que optamos e aprender com os erros da vida, louvando a
Deus pelos acertos e graças recebidas.

Não podemos parar no limite e na dificuldade. Sempre é possível confiar um pouco mais e viver uma vida cheia da graça de Deus, pois assumir o Senhorio de Cristo é assumi-lo em nosso olhar, em nossas atitudes e testemunho de vida. Deus precisa estar em primeiro plano em nossa vida; assim, é possível aprender e seguir em frente.

O Senhor é quem nos ajuda a voltar nosso coração para Sua presença. Sem Ele andamos sem rumo; junto Dele encontraremos a direção. Podemos passar por desertos em nossa vida, mas se não deixarmos de caminhar com Cristo, tudo será diferente e tomará novo rumo

O cristão não pode viver sua fé – sua caminhada rumo à Jerusalém celeste – como um peso. Não é e não pode ser um peso ser de Deus; pelo contrário, ser de Deus preenche o
coração, dá sentido à nossa vida, dá segurança para caminhar, com a certeza de que Ele está conosco e que é para Ele que
trabalhamos. Não foi pouco o que Cristo fez por nós. Ele veio morar em nosso meio, foi julgado, maltratado, incompreendido, cru-
cificado e morto – tudo porque nos ama muito – mas ressuscitou, venceu a morte e nos deu vida nova, a qual temos dificuldade de assumir, pois paramos nas “cruzes” do dia a
dia, nas lamúrias e nas dificuldades. Com essa nossa postura, corremos o risco de ser como tantos que fazem discursos pessimistas: “Como é difícil ser de Deus…”, “Como é difícil viver a Palavra…”, “Como é difícil ser cristão, ser padre, ser casado, ser jovem, ser adolescente nos tempos atuais…”.

Como vivi até aqui? Como quero viver a partir de hoje?

O passado não nos define. O que nos constrói são as escolhas que fazemos. Olhando para Jesus, notamos que a Sua vida foi uma entrega total a Deus. Não deu ouvidos ao inimigo, não parou nos limites humanos, ao contrário de Adão, que vivia no paraíso e, mesmo assim, decidiu pecar. Cristo estava no deserto, não tinha apoio, foi traído, negado e pregado na Cruz, mas nem mesmo a morte teve a última palavra, Ele ressuscitou para que Seus filhos entendessem que as dificuldades da vida servem de aprendizado e crescimento, desde que estejam unidos à fonte da graça que é Deus. Saiba, tem muita coisa boa para acontecer na sua vida!
Recomeçar é a palavra de ordem. Recomeçar com Deus, na oração, na intimidade, na busca dos sacramentos. Recomeçar com os irmãos, no perdão e na reconciliação. Recomeçar com você mesmo. Recomecemos, pois Deus não desiste de nenhum de Seus filhos.
Temos disponíveis diversos meios para prosseguir, dentre os quais posso destacar os seguintes:

1) Assumir a fé que recebeu no Batismo;
2) Renovar a confiança em Deus e no Espírito Santo;
3) Vivenciar os mandamentos, os dons e frutos do Espírito Santo;
4) Ter fé na Palavra de Deus e nos ensinamentos cristãos;
5) Viver com entusiasmo e alegria, pois um coração que ama Cristo não pode ser triste.

Nossa oração não fica sem resposta, mas é preciso ver os sinais de Deus

O homem que rezava durante a enchente

Certa vez, houve uma enchente em uma cidade e uma casa, construída em uma baixada, começou a ser inundada. Nela havia apenas um homem.
Este senhor começou a rezar para a chuva parar, mas nada acontecia e a chuva continuava a cair insistentemente. Ele rezava, pedindo a Deus que parasse a chuva, mas a água continuava a subir… até chegar à sua cintura! De repente, apareceu um homem em uma canoa e gritou-lhe “Entre aqui!”. O homem, de sua casa, respondeu: “Não! Estou rezando e o Senhor vai me ajudar”. E a água subindo. Logo ele teve de subir no guarda-roupa.
Apareceu, então, um barco a motor. Chamaram-no, mas ele deu a mesma resposta. Minutos depois, o homem teve de subir em cima do telhado. E da mesma forma que a chuva não cessava, o homem persistia em seus pedidos a Deus para que parasse a chuva.
Um helicóptero sobrevoava por sobre a casa. Desceram uma cadeirinha até o homem em uma corda, mas ele deu sinal que não ia, porque estava rezando para a chuva parar.
Aconteceu que a chuva aumentou, o homem foi levado pela correnteza, não sabia nadar e morreu afogado.
Logo que chegou ao Céu, já foi brigando com o primeiro que encontrou, que foi São Pedro: “Deus não atendeu à minha oração!”, disse ele. São Pedro respondeu: “Como não atendeu, filho, se Deus lhe mandou a canoa, o barco a motor e até o helicóptero?”.

“Pedi e vos será dado. Procurai e achareis. Batei e a porta vos será aberta. Pois todo aquele que pede recebe; quem procura encontra; e a quem bate a porta será aberta” (Mt 7,7-12). Com essa pequena história podemos compreender que é preciso saber ouvir os sinais de Deus e atende-lo quando bate à nossa porta. Deus nos atende, quando não diretamente, por meio de pessoas e de recursos que deixou na terra, no caso da história, através da canoa, do barco a motor e do helicóptero.

Ouso dizer que este é o milagre da retomada, pois, para muitos, está sendo um verdadeiro milagre sair da situação em que se encontrava para avançar por uma vida plena de sentido.
Somos livres para escolher nossos caminhos e reações, e a escolha se tornará mais leve se estiver bem definida a sua vocação e missão.
Use de sua vida para dar vida a um mundo tão sofrido, ainda, por realidades adversas. Mesmo que a sua contribuição pareça ínfima, continue. Lembre-se do beija-flor que molhava o bico e tentava apagar, sozinho, um incêndio. Parecia não fazer diferença, mas ele não deixou de fazer a sua parte.
Deus te abençoe, te guarde, te ilumine e que a sua vida seja transformadora, cheia da graça e da misericórdia do Senhor.

E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus (Rm 12,12).Que a Virgem de Pentecostes interceda por nós.

 

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Artigo de Padre João Marcos Polak

Assessor Eclesiástico da Pastoral Vocacional

Padre João Marcos Polak é assessor Eclesiástico do SAV – Serviço de Animação Vocacional. Formado em psicanálise, Counseling e logoterapia fundamental, pós-graduado em logoterapia e está estudando psicologia. É autor de três livros: “Recomece Deus acredita em você”. “O poder da oração sincera – conheça a forca transformadora da fé a exemplo de Jabes” e “Cerco de Jericó – o Mal vai sucumbir e as muralhas vão cair”. É formado em filosofia pelo Instituto Canção Nova e teologia pela Faculdade Dehoniana em Taubaté. Foi ordenado sacerdote em 2013. Atuou como formador, vice-reitor e coordenador do curso de Teologia, no Instituto Bento XVI, Canção Nova. Foi assessor da RCC Diocese de Lorena. Foi enviado em missão à Roma e depois a São Jose dos Campos. Em 2019 chegou na missão Canção Nova de Curitiba onde atuou como responsável pela espiritualidade da comunidade e assessor das Novas Comunidades da arquidiocese de Curitiba. Atuou como vigário da paróquia de Palmeira/Pr e, depois, Santuário Nossa Senhora do Carmo, Curitiba e na atualidade está trabalhando com as vocações e assessor do Movimento das Capelinhas.

Lema: Por Ele dais ao mundo todo bem e toda graça.