A culpa e a redenção no filme do Godzilla | Pe. Tiago Polonha

Já faz algum tempo que assisti esse filme no cinema e esperava com ansiedade para poder falar sobre ele. Agora o momento chegou, pois chegou no início desse mês no streaming essa grande obra prima do cinema, considerado por muitos como o melhor filme do ano: Godzilla Minus One. Esse foi o primeiro filme do Godzilla, em mais de 70 anos da franquia a concorrer um Oscar e foi o primeiro filme de língua não-inglesa a ganhar o Oscar de Melhores Efeitos Visuais. Com toda a clássica calma japonesa, esse é um filme que com certeza surpreende todos os espectadores.

Aí você pode me perguntar: o que um filme sobre um monstro radioativo gigante pode nos ensinar sobre nossa fé? E a resposta vem exatamente do maior triunfo do filme: ele vai muito além do monstro! A começar pelo título do filme: Minus One! Nessa história do Godzilla, somos levados para o Japão pós Segunda Guerra Mundial: um país destruído pela guerra e pela explosão da Bomba Atômica. Um país devastado, que precisava se reconstruir e reconstruir também a sua esperança a partir do zero. Aí, no meio de toda essa desesperança, vem do mar o monstro gigante, mais uma vez destruindo o pouco do país que restou. Se já estamos recomeçando do zero, com Godzilla vamos para o “Menos um”. Daí o nome do filme.

Com toda a clássica calma japonesa, esse é um filme que com certeza surpreende todos os espectadores. | Foto: Reprodução (Toho Co., Ltd.)

E é exatamente isso que veremos nesse filme: a luta contra o medo, contra o desespero, contra a falta de fé. O personagem principal que acompanhamos em Godzilla Minus One é o ex-piloto kamikaze Kōichi Shikishima. Logo no início do filme, vemos esse piloto desistir de sua missão e se refugiar em uma ilha, com a desculpa que havia algo errado com seu avião de guerra. Nessa ilha acontece o primeiro ataque de Godzilla e ele acaba sendo o único sobrevivente. Voltando ao Japão e vendo seu país destruído, Kōichi começa a enfrentar a solidão e a agonia, sentindo-se culpado por ter desistido de sua missão inicial. A partir disso, Kōichi inicia, junto com alguns veteranos de guerra, uma caça ao monstro em busca de vingança e redenção.

Extremamente emocionante, acompanharemos o sofrimento desse ex-piloto e, mais que sua luta com Godzilla, participaremos também de suas lutas internas, principalmente a culpa que carrega consigo. Mas não se engane, mesmo vendo esses traumas, o filme não perde o ritmo da ação eletrizante que um bom filme tem. Só que em meio a tudo isso, poderemos também nos aproximar de toda a dor e cicatriz que a guerra produz. E acompanhando isso através das dores de Kōichi Shikishima, podemos também olhar para dentro de nós, os traumas e cicatrizes, e nos sentir representados na luta desse personagem.

Godzilla Minus One é um filme que vai fazer pensarmos também nos nossos caminhos, na nossa missão e na nossa resposta. Nem sempre é fácil seguir a missão que Deus nos confia, e muitas vezes sentimos dentro de nós culpa por não sermos tão fieis como gostaríamos de ser. Mas Jesus nos lembra no Evangelho que não é ele que nos acusa. Quem gosta de nos acusar e rebaixar é o inimigo. Mas contra ele, Jesus nos envia o Defensor, o Espírito da Verdade que permanecerá conosco (Jo 14, 16-18). Jamais devemos desistir porque erramos. Precisamos voltar nosso olhar a Deus, erguer nossa cabeça e seguir em frente, confiando na misericórdia infinita de nosso Deus. A Igreja e os Sacramentos estão aí para nos dar a certeza do amor e ternura de nosso Deus.

Godzilla Minus One
Takashi Yamazaki, 2023
Ação/Ficção Científica – 2h05
Disponível na Netflix

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Por Padre Tiago Polonha
Arquidiocese de Curitiba