Chegou o frio. Árvores secam, deixando cair suas folhas. Um grande exercício de “Olhar o tempo” leva a entender que a contemplação desta realidade da natureza pode lembrar a finitude, a morte, os limites, o sofrimento…
Em meio às dificuldades da vida, inúmeras vezes e de muitos modos os seres humanos parecem atravessar um “longo inverno”, período em que aparecem situações variadas. Estas levam a uma afirmação categórica e com extensa propriedade de que “todos nós nos tornamos como homens impuros, nossas boas ações são como roupa manchada; como folhas todos nós murchamos, levados por nossos pecados como folhas pelo vento” (Isaías 64,6).
Para ajudar, o apego exagerado àquilo que é meramente passageiro neste mundo não permite uma compreensão de que “quem confia em sua riqueza cairá, enquanto os justos reverdecerão como a folhagem” (Provérbios 11,28).
E mais: ninguém pode dizer que nunca passou (ou não passa) por dificuldades, nas quais é possível sentir-se “como um carvalho verde com folhagem seca, e como um jardim sem água” (Isaías 1,30)
Grande consolo aparece na Sagrada Escritura, que está repleta de comparações. A vida humana é simbolizada por uma árvore, uma planta ou algo do gênero. Jesus Cristo aí diz: ”Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará” (João 15,1). E o Senhor ainda reitera: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim” (João 15,4).
O inverno, que traz em seu bojo o frio, a fome, os ventos e até doenças características, não deixa de ser uma estação normal dentro de um processo cíclico, estacional. Este último separado por fases (Primavera, Verão, Outono, Inverno). Em tudo que vivemos precisamos contemplar Deus, que não deixa de passar no meio de nós, pois foi Ele que fez e nos deu tudo o que existe. Como as estações do ano, a vida humana é repleta de desafios em várias fases. Todas elas são importantes para o desabrochar, para o amadurecer, para produzir frutos e até para morrer, pois acerca desta grande certeza a tradição cristã afirma: “para quem crê a certeza da morte entristece, mas a esperança da imortalidade consola”. Aliás, “se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto”. (João 12,24).
Grande é o exemplo de Maria, que ao vivenciar o outono aceitando por Obra do Espírito Santo gerar um “Bendito fruto em seu ventre”, termina por alegrar o mundo com um esplendoroso verão: o Nascimento de Jesus. Ela, que entre outras dificuldades, um dia “subiu apressadamente a região pedregosa da Judéia”, lembra que Deus permite a experiência do inverno onde o frio assola e as pedras do caminho aparecem enquanto as folhas caem. E garante que Ele também dá uma primavera em que as folhas brotam “porque, quão certo o sol faz germinar seus grãos e um jardim faz brotar suas sementes, o Senhor Deus fará germinar a justiça e a glória diante de todas as nações” (Isaías 61,11).
Para viver melhor, reconhecendo Deus em nosso tempo, confiemos na intercessão de Maria que nos envolve. O grande pregador, Padre Antônio Vieira disse em seu famoso Sermão sobre as Prerrogativas de Maria: “Quando chega o calor a terra se esquenta, faz germinar as ervas e produz os frutos. Assim, após a descida do Espírito Santo, a terra bendita concebeu e deu à luz o Fruto bendito que expulsou toda a maldição. Com razão, portanto, foi dito: “O Espírito Santo descerá sobre ti. Por isso, na Anunciação do anjo, Maria refulgiu verdadeiramente como o sol”.
Resta a cada pessoa ficar de “olho no tempo” para acolher o “Cristo, Sol de Justiça”. Somos cada um e cada uma “semelhantes a uma árvore, que à beira da torrente está plantada. Ela sempre dá seus frutos a seu tempo e jamais as suas folhas vão murchar, e eis que tudo o que fazemos vai prosperar” (Salmos 1,3). Cristo ajuda a superar os mais “rigorosos invernos”, até que chegue um tempo melhor: “Compreendei isto pela comparação da figueira: quando seus ramos estão tenros e crescem as folhas, pressentis que o verão está próximo” (Mateus 24,32).
A Fé garante que o ser humano é uma “árvore imortal”. Importa viver cada fase procurando “segurar-se nas raízes”, ou seja, não desvincular-se do essencial, procurando realmente compreender o que Jesus afirma: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (São João 15,5).
Bem enraizados como a Virgem Maria, deixemos que ela nos envolva como fez com o Menino Jesus a quem “embrulhou em panos e colocou em uma manjedoura” (Lc 7,12). Rezemos juntos neste mês de junho, inscritos no caloroso e Sagrado Coração de Jesus e no acalentador Imaculado Coração de Maria: Ave Rainha do Céu, Ave dos Anjos Senhora, Ave RAIZ, Ave Porta, da Luz do Mundo és Aurora. Exulta óh Virgem tão bela, as outras seguem-te após. Nós te saudamos: adeus! E pede a Cristo por nós, Virgem Mãe, Óh, Maria!”. AMEM!
Padre Fabiano Dias Pinto- Reitor do Seminário Rainha dos Apóstolos- Curitiba